Não é por falta de adeus

Na última sexta-feira, 20 de janeiro, foi encerrado mais um ciclo na Celesc. Um ciclo que não deixará saudade para grande parte dos empregados. Um ciclo que ficou marcado pelos confrontos e ataques a direitos dos trabalhadores durante as negociações dos últimos Acordos Coletivos de Trabalho, por tentativas frustradas de dividir a categoria e a barganha política (alguém se esqueceu da promessa de Plano de Saúde mais barato em troca da facilitação da privatização da companhia?), pelos ataques à representação dos trabalhadores no Conselho de Administração e pelo ‘faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço’ (proibição do home office para a categoria, mas permissão do home office para quem tinha a caneta na mão).


O agora ex-presidente Cleicio entra para a história da Celesc como o Presidente que ‘sumiu’ nos últimos meses de sua gestão. Como o presidente que parecia ter medo de receber em seu gabinete prefeitos, vereadores, deputados. Como o presidente que não ia para os meios de comunicação apresentar os bons números da Celesc e defender a empresa nos momentos de acusações mais graves. Também será lembrado por não receber os sindicatos da Intercel – representantes legítimos da categoria – e por fugir do debate em dias de atos dos trabalhadores por direitos.


Cleicio não agiu sozinho, é preciso destacar. Teve, durante boa parte de sua atuação, apoio de empregados de carreira que, em busca de promoção e vantagens pessoais, não se importaram em dar sustentação aos ataques do Presidente contra os trabalhadores e suas representações. Agarrados em Cleicio e ao status de uma nomeação, esqueceram-se de que são trabalhadores e, agora, nas horas finais dessa administração, serão sempre lembrados como traidores dos celesquianos. Em um último ato desesperado para tentar se perpetuar na Presidência, Cleicio conseguiu se aliar ao representante do acionista minoritário, Lírio Parisotto, e dos demais Conselheiros de Administração representantes do governo Carlos Moisés, buscando instaurar um caos administrativo na Celesc, impedindo a nomeação de um novo presidente, atentando contra a recomposição do Conselho de Administração e dando força à pressão política de Parisotto pela privatização da Celesc.


O ex-governador Carlos Moisés (Republicanos) é responsável direto pela administração baseada na violência contra a categoria: começou indicando para a presidência da Celesc uma figura que, segundo ele mesmo afirmou, foi fruto de uma “iluminação divina”, mas que claramente não compreendia (e ainda não compreende) o tamanho da Celesc. Na presidência, Cleicio reproduziu a arrogância de Moisés, que nunca se comprometeu publicamente com a manutenção da Celesc Pública, tendo se recusado a participar do 11° Congresso dos Empregados da Celesc, em Joinville, em maio passado – não custa lembrar que o atual governador, Jorginho Mello (PL), então Senador da República, não somente aceitou o convite, como fez uma fala se comprometendo a manter a Celesc Pública, no evento.


Uma nova diretoria e novos Conselheiros estão assumindo o comando da Celesc, maior estatal de Santa Catarina, uma das concessionárias com melhores índices de satisfação do consumidor e com números e indicadores muito positivos, fruto de muito trabalho e dedicação de trabalhadoras e trabalhadores. É a chance dos novos indicados escreverem uma história de respeito à categoria e aos direitos dos trabalhadores. Uma história de diálogo e ações concretas em defesa da manutenção da Celesc Pública. Que esses compromissos sejam levados a sério, para que, no futuro, as memórias e recordações de trabalhadores e consumidores sejam mais positivas que aqueles que acabam de sair.

Fonte: Jornal Linha Viva Nº 1566 de 26 de janeiro de 2023

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