O tema cultura, sempre que debatido - em qualquer tempo e espaço - suscita acaloradas opiniões e concepções que vão de um extremo a outro. Por um, lado há os que consideram a questão cultural somente como lazer, entretenimento. Por outro, estão os defensores de que qualquer atividade artística se basta por si só. Outros ainda associam a cultura a um acúmulo de conhecimentos, que atribui poder e status a quem a possui. E há também os que defendem a ideia de que cultura é a maneira como nos relacionamos com a vida e a recriamos. No meio desse fogo cruzado, estão as atividades culturais nos sindicatos.
Ao longo de seus 17 anos de ação cultural, o Sindicato dos Eletricitários de Florianópolis e Região - Sinergia - vem dialogando com o seguinte conceito: cultura não é só literatura, música, cinema, teatro, dança, artes plásticas. É também o conjunto das chamadas “culturas populares”: o artesanato, as festas e o folclore. Mais do que entretenimento, é o modo pelo qual uma sociedade vive e dá sentido a sua própria existência. Área genuína da expressão humana, a cultura pode estimular o exercício crítico e criativo, propiciando espaços que resgatem, preservem e criem novos vínculos de solidariedade onde o ser humano se sobreponha a todas as coisas. Através da ação cultural é possível (re)afi rmar a identidade de um povo e imprimir novos valores à sociedade, em busca da superação do pensamento único vigente.
15 anos de luta pela cultura, a par da luta em defesa dos direitos dos trabalhadores, este é o grande feito do Sindicato dos Eletricitários de Florianópolis - Sinergia. Neste tempo, tornou realidade a democratização da produção artística, garantindo a fruição e a criação a todos os que têm sensibilidade para tanto, tirando-a do nicho elitista em que procuram aprisioná-la; e assim avançando no esforço de melhor distribuir os bens simbólicos, em nosso País tão concentrados quanto os bens materiais.
Nem sempre os sindicatos tomam consciência da importância da ação cultural, aceitando a limitação de mera ação econômica, que lhe é induzida pelas elites. Não o Sinergia, o jornal Linha Viva, dos eletricitários de Santa Catarina, tem sempre a página 4 dedicada à cultura. O Concurso Literário de Conto e Poesia, aberto a todos os nascidos no Estado ou moradores. O Projeto Meia Hora leva música, dança, teatro para os locais de trabalho; aberto à comunidade, já atingiu 15 mil pessoas.
A presença do Sinergia se faz sentir apoiando grupos e espetáculos de teatro, música, dança, além de exposições de pintura e fotografia. A luta de nosso povo por cidadania e vida digna, em seus vários níveis, não pode prescindir do gozo estético nem do aprofundamento da sensibilidade e da tentativa de entender a condição humana. O Sinergia compreendeu isto.
Eglê Malheiros e Salim Miguel, escritores.