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Greve dos entregadores foi vitoriosa
O entregador Paulo Lima, conhecido como Galo, fala sobre a greve da categoria e os caminhos em busca de melhores condições de trabalho
Publicado pela CartaCapital
“Existe força de trabalho sem patrão. Não existe patrão sem força de trabalho”. A frase que define a vida de Paulo Lima, 31 anos, mais conhecido como Galo, traduz a correria que o entregador tem feito para além dos momentos que está em sua moto, percorrendo a cidade para dar conta das entregas diárias.
Galo se tornou uma importante voz na luta pela melhoria das condições de trabalho dos entregadores de aplicativos e é fundador do Movimento dos Entregadores Antifascistas, presente em 11 estados brasileiros.
Embora saiba da importância da luta e de sua contribuição para o fortalecimento da agenda, prefere não ser tratado como uma liderança. “Não acho que é o caminho. Acho que as pessoas têm que saber porque amam ou odeiam as coisas. Quando as pessoas gostam de ouvir o que falo é porque já carregam aquilo no coração. Precisamos entender das coisas, sermos líderes de nós mesmos”, garante.
Galo integrou a paralisação nacional do dia 1 de julho e vê o movimento como positivo dentro de uma caminhada que ainda tem muito a ser trilhada. “Ainda tem companheiro que estava se vendo como empreendedor, sem entender a luta por direitos. Conversei com muitos deles. O que fica é uma coisa boa”, relata. Confira os principais momentos da entrevista.
“Decidi que não ia mais trabalhar com isso”
Em 2015, Galo decidiu que não mais trabalhar como motoboy depois de sofrer dois graves acidentes e quase perder a vida. Ele trabalhava na profissão, registrado, desde 2012, antes de entrar para o mundo dos aplicativos. “Fui ser camelô, repositor de mercado, florista, aí consegui um trabalho registrado de técnico de telecomunicações, só que em 2017 eu fui mandado embora e minha filha ia nascer [ele tem uma filha de dois anos]. Aí em 2019 tirei uma moto, me cadastrei em um aplicativo e retomei a luta”, contra o entregador que mora com a família na zona Oeste da capital, no bairro do Butantã.
A retomada e os bloqueios pelas plataformas
Galo atuou como entregador das plataformas Uber Eats, Ifood e Rappi, mas encontra-se bloqueado por todas as plataformas. Hoje atua com serviços por fora, “gente que me contrata como motoboy particular”, conta. Na Uber, ele conta que o bloqueio veio depois do pneu da sua moto furar e ele não conseguir finalizar uma entrega. Era dia 21 de março, dia do seu aniversário. “Avisei eles do problema e eles me bloqueram”, conta. Foi a gota d’água para que passasse a integrar os atos que denunciam as frágeis condições trabalhistas da categoria. Ifood e Rappi praticaram o que ele chama de “bloqueio branco”. “Você fica online mas não recebe pedidos, entendeu?”, conta o entregador que atrela a atitude das plataformas à sua postura questionadora frente às empresas.
Paralisação nacional
Para o entregador, a paralisação do dia 1 de julho deixa uma marca positiva para a luta. “Foi a maior de todas até aqui”, afirma, embora entenda que ainda há um longo caminho a ser percorrido. “Tinha muito companheiro ainda iludido na ideia de ser empreendedor e tal, sem entender que a luta é pelos nossos direitos. Foi um momento que conversei com muitos deles”, conta. Galo afirma, no entanto, que por parte das empresas ainda não viu nenhuma mudança.