Empresas proíbem sindicato de abrir canal de debate sobre assédio sexual

Nos últimos meses, o Sinergia foi procurado por trabalhadoras da base solicitando que fosse feita uma campanha contra o assédio sexual no ambiente de trabalho. Aproveitando o Dia da Mulher que se aproximava, o Sindicato estruturou uma campanha (conforme anunciado na edição 1570 do Linha Viva) para que as mulheres colocassem em uma urna, de forma anônima, frases ou situações que já passaram ou presenciaram no ambiente de trabalho que as tenham constrangido ou remetido a qualquer característica de assédio sexual. Na sequência, a campanha teria uma live com mulheres profissionais das áreas de Direito, Serviço Social, Ciências Sociais, Economia e Psicologia e, ainda, uma Roda de Conversa presencial, oferecendo um lugar acolhedor e seguro para a discussão dessa temática tão sensível para as mulheres.


De acordo com Cecy Marimon Gonçalves, diretora do Sinergia, o maior objetivo da campanha não é coletar denúncias: “a intenção é abrir o debate, informar, ouvir trabalhadoras e, se necessário, orientá-las sobre as formas de denunciar nos canais específicos para isso. Diferentemente dos canais de denúncias institucionais, que servem para receber denúncias, essa campanha tem o objetivo de escutar e informar para prevenir”. Ao solicitar um espaço para que as urnas fossem colocadas nas sedes das empresas juntamente com o banner da campanha, veio a surpresa. Tanto a CGT Eletrosul como a Celesc deram respostas muito semelhantes: que a autorização não seria dada por já existir um canal de denúncias em cada uma das empresas e cursos/capacitações sobre o tema.


Talvez este seja um bom momento para reflexão das Diretorias sobre o porquê de trabalhadoras procurarem o sindicato ao invés da empresa, se há canais e cursos eficientes sobre o tema, não é mesmo?


Thayene Ramos Bulzing, também diretora do Sinergia, afirma que “nossa proposta com as urnas não era abrir um canal de denúncias nominais, visto que o Sindicato não tem papel investigativo, nem deliberativo, dentro das empresas para tratar casos de assédio de forma administrativa. Essas são responsabilidades das Ouvidorias, Corregedorias, Comitês de Ética, Departamentos de Recursos Humanos, Compliance e agora, das CIPAs”.


A análise histórica mostra que o assédio sexual é um fantasma que assola a todas as mulheres trabalhadoras. Muitas vezes, toma formas disfarçadas, outras vezes as atitudes assediadoras são naturalizadas e compreendidas como brincadeiras ou simples comentários. Por isso, é importante saber as formas que o assédio pode tomar, para que ele possa ser identificado e as devidas providências possam ser tomadas. Esse é o propósito da campanha “Precisamos falar sobre isso”. O silêncio esconde o tamanho real do problema e impede que algo possa ser feito. Resta a pergunta: por quê nos calam?

Fonte: Jornal Linha Viva Nº 1572 de 16 de março de 2023

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