O dia 15 de agosto estava marcado no calendário da Eletrobras como mais um ‘Eletrobras Day’, momento em que a alta direção mostra os feitos e planos para a empresa. A agenda deu lugar ao apagão que atingiu o Brasil (exceto Roraima, que não se encontra no Sistema Interligado Nacional). O ‘Eletrobras Day’ teve de ser remarcado, pois faltou luz. São os efeitos perversos da privatização da empresa, alertados pelo Coletivo Nacional dos Eletricitários e ignorados por quem atuou para privatizar a maior empresa do Sistema Elétrico da América Latina, responsável por 25% da geração e 40% da transmissão.
A identificação das causas do apagão anunciado demorou mais devido à falta de quadro técnico experiente e capacitado, alvo dos desligamentos desenfreados por parte da Eletrobras. A própria empresa afirmou que, quando ocorreram os atos de vandalismo em torres de transmissão, teve que retardar a saída de quadros técnicos experientes para lidar com a situação. Apesar de reconhecer a fragilidade, falou mais alto o discurso de redução de despesas com pessoal.
Tragédia anunciada: diversos foram os alertas do CNE, que incluíram pedidos de suspensão dos desligamentos na empresa. Ainda em dezembro/22, mesmo sendo um governo de transição, foi solicitada a suspensão dos desligamentos para a Eletrobras privada – pedido ignorado solenemente. Mais uma vez o CNE alertou diversas instâncias do Governo, tanto da falta de quadros técnicos, quanto de descumprimentos de normativas de segurança Brasil afora. O MME solicitou à Eletrobras, em 20 de julho, que avaliasse a suspensão dos desligamentos, preocupado com o sistema elétrico brasileiro devido à saída de profissionais altamente qualificados e os reflexos para a prestação de serviços, até o momento sem resposta.
Não se trata apenas da falta de quadros técnicos no Sistema Eletrobras, há também o reflexo da gestão do medo na atuação destes profissionais. A Eletrobrasilidade da Eletrobras de Lemann tem por base sobrecarregar o quadro técnico, descumprir normas de segurança, aumentar acidentes de trabalho, diminuir salários e benefícios – enquanto aumentam suas próprias remunerações em 3.000%, e a consequência é o adoecimento do quadro técnico. A saída do presidente Wilson Pinto Jr. é outro capítulo nessa história. “Sequestrado” da Vibra após a privatização da Eletrobras pelo grupo 3G, ele renunciou nessa semana. Assume em seu lugar Ivan Monteiro, o articulador do grande acordo da 3G, segundo reportagem da Folha de SP. É sabido que havia desgaste entre o ex-presidente e o Conselho de Administração, mas a saída de Pinto levanta uma lebre: ganhou o mercado financeiro? Apesar de controverso, Pinto conhece o setor elétrico. O novo presidente entende de cifras. A política de gestão baseada em cifras escancarou a fraude das Americanas. Será esse o futuro da Eletrobras? A reestatização de empresas de energia mundo afora dá o tom que o Brasil deve seguir: empresas de prestação de serviço essencial devem ser valorizadas e estatais. Reestatização, já!
Fonte: Jornal Linha Viva Nº 1585 de 03 de agosto de 2023