Está sobrando dinheiro na Celesc?

Na quarta-feira da semana passada, dia 26, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina inseriu na pauta de votação do plenário, sem que constasse previamente na pauta do dia, um ofício de alteração do Estatuto da Celesc, que virou projeto de decreto legislativo. O objetivo da mudança do Estatuto era permitir à Assembleia de Acionistas a criação de uma nova Diretoria na empresa: a Diretoria Jurídica.

A tramitação do projeto na Assembleia Legislativa não era uma novidade para celesquianos e celesquianas. O Representante dos Empregados no Conselho de Administração da empresa, Paulo Horn, já havia noticiado o fato em seu Boletim do Conselheiro e dialogado com a categoria sobre o assunto nas suas percorridas de prestação de contas, no início de 2024. A novidade, que pegou até mesmo parlamentares de surpresa, foi a inclusão da votação do projeto na ordem do dia 26 de junho, já que o projeto não estava pautado para ser votado naquele dia. Muitos deputados que, historicamente, são parceiros das lutas de celesquianas e celesquianos, não estavam presentes no plenário no momento da votação e havia uma maioria governista – aliados de Jorginho Mello.

Votaram contrários ao projeto que permite ao Conselho criar uma nova Diretoria na empresa apenas os deputados Neodi Saretta (PT), Repórter Sérgio Guimarães (UNIÃO), Fabiano da Luz (PT) e Marcos José de Abreu, o Marquito (PSOL). Fabiano da Luz e Marquito, inclusive, fizeram falas questionando o projeto: “é muito estranha essa mudança no Estatuto da Celesc no momento em que a Celesc está carente de contratar funcionários, de repor servidores, não há uma discussão com a categoria sobre melhorar os aspectos e condições de trabalho. No entanto, se cria um cargo de direção com um super salário. Acredito que a Celesc precisa sentar e discutir melhor essa questão do serviço público, do atendimento ao cidadão, por isso quero me manifestar contrário a essa proposta”. O deputado Marquito fez sua fala no mesmo sentido: “Hoje a Celesc recebe uma enorme crítica até injusta da população por conta da mudança do sistema nas centrais de atendimento. Os trabalhadores organizados têm reivindicado a abertura de novos cargos, estruturação das condições de trabalho, tanto a frota de automóveis para o trabalho a ser realizado lá na ponta. E uma instituição que sempre foi uma referência, que é uma das energias elétricas mais baratas do Brasil por ser um serviço público e que vem depreciando esse serviço. Acho que esse debate da Celesc deveria ser muito bem ampliado: a abertura de concurso e de chamamento para recompor o quadro de funcionamento da Celesc (…), a questão das condições materiais para o trabalho deveria também ser reconsiderado e acho que a gente aprovar um debate para abertura da discussão interna, do Estatuto interno, e criando um cargo com um salário que difere completamente daquilo que está se pedindo lá na base, acho que é ruim para esse momento, então também quero declarar meu voto contrário à matéria”.

As manifestações dos deputados Fabiano da Luz e Marquito são muito corretas. A Celesc sofre um grave dano à sua imagem nesse momento justamente por conta da mudança do sistema comercial sem preparo, sem que tivesse empregados suficientes na ponta para atender bem à população. Diversas lojas de atendimento estado afora estão fechadas hoje por conta da falta de atendentes e em boa parte delas os empregados estão adoecendo pelo excesso de trabalho e pela pressão. Faltam eletricistas e outros profissionais em número suficiente em diversas áreas. As camionetes para atendimento estão em estado crítico em boa parte do estado: “arruma aqui e imediatamente estraga ali”, relatam empregados de diversas regiões do estado. A empresa se negou a conceder uma série de direitos no último Acordo Coletivo de Trabalho (como a isonomia na sua integralidade a todos os empregados) justificando o impacto financeiro. A atual Diretoria se nega a reajustar os valores das diárias de viagens de forma a atender as demandas da categoria. Mas há dinheiro suficiente para bancar o super salário de um(a) novo(a) diretor(a), gratificações para assistentes, assessores, chefias de Departamento e Divisão, fora inúmeros outros gastos que a criação de uma nova Diretoria acarreta?

A categoria espera que a Assembleia de Acionistas não permita tamanha indecência e incoerência. As prioridades na empresa precisam ter como objetivo atender bem à população e dar condições dignas de trabalho aos seus empregados. Criar uma nova Diretoria nesse momento apenas para abrigar os “amigos do Rei” em nada contribui para a população ser melhor atendida. Do mesmo modo, não atende em nada aos anseios da categoria. 

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