O esvaziamento da Diretoria Comercial

Um dos primeiros pontos que chama a atenção é o esvaziamento da Diretoria Comercial. A Diretoria Comercial é a única onde os trabalhadores podem eleger um celesquiano para representá-los na Colegiada. Ao longo dos tempos, muitos ataques contra a Diretoria Comercial foram realizados, com tentativas de impedir a participa ção dos trabalhadores, cassação ilegal de Diretor eleito e tentativas de extinção da própria Diretoria.

 O esvaziamento apresentado nesta nova proposta é muito claro e afrontoso. A Diretoria Comercial ficaria apenas com o Faturamento e a Arrecadação, enquanto toda a área de Atendimento Comercial seria vinculada à Diretoria de Regulação e a área de Gestão Técnica Comercial seria vinculada à uma nova Diretoria de Serviços. Em ambos os casos, a visão é a da terceirização.

 Não existe uma só justificativa plausível para tirar o Atendimento Comercial da Diretoria Comercial. A única justificativa é facilitar a terceirização da área, um desejo explícito do Presidente da Celesc, Tarcísio Rosa. Tarcísio já deu declarações públicas de que deseja terceirizar o atendimento, processo que tem sido barrado pela atuação da própria Diretoria Comercial eleita pelos empregados. A visão e o compromisso de um trabalhador de carreira eleito têm impedido que o atendimento comercial seja entregue à iniciativa privada. Esta mesma estratégia foi utilizada na Casan, onde antes da posse do Diretor Comercial eleito, uma alteração na estrutura esvaziou a Diretoria e permitiu que o atendimento fosse totalmente terceirizado.

 A Celesc já teve uma péssima experiência com a terceirização no Atendimento Comercial. De tão ruim, foi reestruturado, com a criação do cargo de atendente, quando os sindicatos quebraram o dogma de permitir contratações com carga horária de 4 horas, garantindo qualidade na prestação do serviço à sociedade, papel principal de uma empresa estatal.

 A terceirização é mais do que um retrocesso. É o atestado do deserviço da atual presidência da Celesc para a sociedade catarinense e da perseguição de Tarcísio contra os atendentes comerciais concursados. É a PRECARIZAÇÃO do serviço prestado, em moldes que abrem caminho para a privatização da Celesc.

 O fim da Diretoria de Geração e a criação da Diretoria de Terceirização

 Na proposta, a Diretoria de Geração deixa de existir, sendo substituída por uma Diretoria de Serviços que teria, além da Operação e Manutenção da Geração, às áreas de Operação da Distribuição, Manutenção da Distribuição, Telecom, Gestão Técnica Comercial e a responsabilidade sobre as áreas de operação e manutenção das Agências Regionais.

 Para os sindicatos da Intercel, extinguir a Diretoria de Geração éum risco à manutenção da própria Celesc Geração Pública, sendo uma porta de entrada para a privatização geral da Celesc. Esta tentativa já foi barrada recentemente.

 A criação de uma Diretoria de Serviços, que abrangeria todos os serviços operacionais da distribuição e geração aprofunda a sensação de que se cria uma Diretoria para administrar contratos, ampliando a já crescente terceirização da empresa.

 Diretoria de Distribuição vira Diretoria de Construção

 A Diretoria de Distribuição, maior orçamento e responsável pela operação e manutenção do sistema elétrico passa a ser Diretoria de Construção, abrangendo apenas planejamento, construção da distribuição, construção da geração e área de construção das Agências Regionais. A DDI é hoje a principal Diretoria da Celesc, responsável pelo planejamento do setor elétrico e pela operação e manutenção, tendo ligação direta com as metas da concessão da Celesc. Ao ser esvaziada, jogando as áreas relativas ao atendimento à sociedade para uma Diretoria que servirá somente para operacionalizar contratos e intensificar a terceirização, a DDI servirá apenas para investimentos com a ótica de retorno financeiro, esquecendo-se que estes devem estar intimamente ligados ao bom atendimento à população catarinense.

Diretoria de Gestão Corporativa sem Gestão de Pessoas?

Uma das mais absurdas mudanças está na Diretoria de Gestão Corporativa. A Diretoria passa a ser responsável pela Comercialização de Energia, o que não faz absolutamente nenhum sentido. Atualmente, a Comercialização está vinculada à Diretoria de Geração e Novos Negócios, com uma visão estratégica muito bem definida. A vinculação desta área à Gestão Corporativa, que via de regra administra suprimentos, tecnologia da informação, saúde e segurança e gestão de pessoas, demonstra um arranjo disfuncional.

 Pior ainda é a ideia de tirar desta Diretoria a responsabilidade de realizar a Gestão de Pessoas, mandando-a para o Planejamento. A gestão de pessoas é inerente à gestão corporativa. Não existe gestão de empresas sem gestão dos trabalhadores. Além disso, a vinculação ao Planejamento  é desdobramento de uma estratégia de promoção de uma “cultura de resultados”, que passa pelo ataque aos direitos dos trabalhadores e pela implementação de uma lógica de individualismo e competição, idêntica à de empresas privadas.

 Chama a atenção, ainda, que a posição de Relações Sindicais tem sofrido um jogo de empurra-empurra entre os Diretores. Ninguém quer assumir a responsabilidade de negociar as reivindicações dos celesquianos e garantir os direitos da categoria. Fica claro que, quem for assumir essa posição será responsável por retirar direitos. Aliada à recente manifestação do Presidente Tarcísio Rosa e da Diretora Pilar Sabino ao Tribunal de Contas do Estado (veja o Boletim da Intercel nº 256) é a demonstração de um completo desrespeito aos trabalhadores.

Privatização é desejo de Diretoria ou de Governo?

A reestruturação das Diretorias em um processo focado na terceirização e na PRECARIZAÇÃO ameaça trabalhadores e sociedade catarinense com um olhar meramente financeiro. Isto feito em um momento em que se discute o futuro político do estado, com a proximidade das composições para as eleições de 2026, passa o recibo da preparação da Celesc para a privatização em um eventual segundo mandato do Governador Jorginho Mello, semelhante ao que ocorreu na vizinha Copel, no Paraná, sob o comando do Governador reeleito Ratinho Junior (PSD).

Incompreensivelmente, a proposta contrasta com as falas recentes do Governador no 12º Congresso dos Empregados da Celesc, onde afirmou que manteria a Celesc Pública, mas que ela precisa entregar mais para os consumidores. Será que estava se referindo somente aos problemas do Conecte? Adequar a Celesc a uma realidade estrutural de empresa privada não traz retorno para a sociedade, muito pelo contrário. Com uma estrutura que privilegia o financeiro, o resultado certamente será a PRECARIZAÇÃO e diminuição da qualidade do serviço prestado.

 Se o projeto não é do Governador Jorginho Mello, a defesa do projeto apresentado pelo Diretor Presidente, Tarcisío Rosa, e pelo Diretor de Finanças, Júlio Pungan, não condiz com a realidade. Nesse contexto, os Diretores empregados Pilar Sabino, Pedro Augusto Schmidt de Carvalho Júnior e Claudio Varella votarão para destruir a única Diretoria eleita pelos empregados e pela concentração de toda a atividade-fim da Celesc em uma Diretor de Terceirização? O Diretor de Geração, Eloi Hoffelder, celesquiano aposentado, votará para extinguir a Diretoria de Geração em que está lotado? 

É fundamental que a Diretoria da empresa explique aos trabalhadores suas intenções para o futuro da Celesc. A proposta que chegou aos sindicatos em forma de denúncia é verdadeira? Quem é o responsável? A Diretoria ou o Governador? Os Diretores celesquianos, da ativa e aposentado aceitarão a arapuca do Diretor Presidente e do Diretor de Finanças ou vão alertar o Governador? Assumirão as suas responsabilidades ou continuarão sendo subordinados em mais esse processo? 

A cada Governo surge uma nova estratégia de privatização da Celesc. Já enfrentamos o sucateamento no início da década de 90; a divisão da Celesc em três, copiando o modelo que vendeu uma parte da CEEE; a venda direta de ações na bolsa de valores, que deu deserta pela ação política; o golpe do novo mercado, entre outros que certamente não vieram à público. Esta não é diferente, tem o mesmo objetivo. É incompreensível a obsessão política de sucessivos governos na tentativa de privatizar a Celesc, empresa pública de qualidade, rentável e bem avaliada pela população.

 Para os sindicatos da Intercel, esta reestruturação é um atentado à Celesc Pública e um golpe nos trabalhadores e na sociedade. As entidades sindicais, mais uma vez trabalharão junto à Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, já que um processo de reestruturação de Diretorias depende de alteração do Estatuto Social da empresa, a ser aprovado na ALESC, novamente buscaremos o apoio dos deputados para que a empresa pública não seja destruída em uma reestruturação que pensa a empresa apenas para o benefício dos acionistas. Por fim, sendo o acionista majoritário, o Governo do Estado não pode referendar uma proposta que vai na contramão de suas promessas.

Os celesquianos sempre resistiram, através das lutas organizadas pelos sindicatos da Intercel. Não vamos aceitar a entrega do patrimônio público. Vamos à luta!

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