Trabalhadores sofrem com as mudanças desde a privatização da Eletrobras
Era uma vez (aquela vez em que a gestão da Eletrobras não era privada – lembram disso?!) uma empresa que se orgulhava de cuidar de seus empregados: oferecia o melhor plano de saúde do mercado, ampla relação de médicos disponíveis em quase todas as especialidades, realização de exames independentemente da complexidade sem burocracia e um atendimento nas clínicas que não faziam você esperar mais do que o tempo de um comercial de TV.
Os funcionários se sentiam como príncipes e princesas. Mas, como toda boa história, essa também teve sua própria reviravolta.
Tal como um roteiro de comédia sem risos, a empresa, conhecida por seu compromisso com o bem estar dos seus funcionários, decidiu que era hora de “ajustar” o plano de saúde que, até então, era considerado um verdadeiro sonho devido à alta satisfação que proporcionam aos trabalhadores.
Na época em que a Eletrobras era empresa pública, os gestores neoliberais queriam o apoio dos dirigentes sindicais da Intersul, mas é claro que não receberam uma resposta positiva, pois sabiam que não seria bom para os empregados. Mas a empresa, de forma unilateral, transformou em uma piada o plano de saúde ao ponto de os trabalhadores se perguntarem se agora vivem um episódio de “programa trágico” onde eles próprios são o objeto de uma falta de respeito.
Com a mudança para um novo plano de saúde, os empregados logo perceberam que o “maravilhoso” havia se transformado em “maravilhosamente complicado”. E os profissionais credenciados? Bem, eles pareciam ter desaparecido como mágica! A lista de médicos agora era mais curta que a fila do pão na padaria da esquina, e os poucos que restaram estavam mais ocupados para atender as consultas do que celebridades em evento de tapete vermelho.
E quando a necessidade de uma consulta particular surge, os usuários se sentem como protagonistas de uma novela de muitos capítulos. O pagamento direto ao profissional de saúde que o beneficiário realiza é rápido, mas o reembolso envolve um processo muito demorado ao ponto de testar a paciência das pessoas: entre ligações intermináveis, formulários demorados para preencher (são comuns as reclamações de que o sistema cai durante o seu uso provocando vários reinícios do mesmo cadastro) e promessas de “em breve”, o reembolso se tornou uma lenda urbana – algo que todos comentam que vai acontecer, mas ninguém constata.
A categoria tem procurado se reunir em grupos de apoio e com o sindicato para compartilhar suas experiências e dicas sobre como sobreviver à nova realidade. “Você já tentou enviar o recibo por pombo-correio?”, brincou um empregado, enquanto outro sugeria que talvez um ritual de dança ao redor do telefone pudesse acelerar o processo.
E assim, a história do novo plano de saúde se desenrola, com cada trabalhador se tornando um heroi em sua própria jornada épica. Afinal, quem diria que um plano de saúde poderia se transformar em uma aventura digna de um best-seller? No final das contas, a promessa da empresa de um novo plano de saúde unificado, na Eletrobras, mais eficiente e com redução da taxa de administração, era de supor que o único objetivo era reduzir os custos da Eletrobrás. Ela não se importa com o bem estar e a saúde de quem é o verdadeiro responsável pelo crescimento da empresa.
Não bastasse tudo isso, são os trabalhadores da Eletrobras lotados em uma área que tem por função receber as reclamações dos beneficiários do plano de saúde que estão prestando serviços (gratuitamente) para a empresa terceirizada contratada pela Eletrobras para gerir o Plano.
E você, usuário do plano de saúde, já passou por alguma experiência semelhante? Se sim, prepare-se para a próxima temporada dessa emocionante série, pois as coisas podem piorar, uma vez que a Unimed Nacional terá que desembolsar* o equivalente a 10% de suas reservas técnicas a fim de reequilibrar as contas da operadora, que conta com mais de 2 milhões de clientes, e evitar uma “intervenção” da Agência Nacional de Saúde (ANS).
A tentativa dos sindicatos de ajudar a buscar soluções para o plano de saúde
No dia 10 de fevereiro ocorreu a reunião da Comissão da Saúde que tem representantes do Coletivo Nacional dos Eletricitário (CNE) e da Eletrobras para tratar desse tema. A empresa se propõe a atender parte dos doze pontos levantados pelo CNE sobre o atendimento do Plano de Saúde e Plano Odontológico. Uma das maiores reclamações dos dirigentes do CNE se refere às negativas da operadora de mercado que, embora contratada com um Plano de Saúde Pós–Pago que deveria ser espelho do plano oferecido pelas autogestões, tem sistematicamente constrangido a categoria com a negativa em realizar exames e procedimentos que usualmente eram cobertos pelos planos de autogestão – exigindo, muitas vezes, o pagamento particular para posterior reembolso.
A empresa reforça que trabalhadores/as não devem pagar por esses procedimentos/exames e imediatamente reportar às pessoas responsáveis na companhia, para que tais problemas sejam solucionados. O CNE reforçou a necessidade de uma maior orientação nesse sentido às operadoras e aos prestadores destas operadoras, visto que o plano de saúde contratado não é e nem deve ser inferior ao anteriormente existente.
Outra reclamação feita aos representantes da empresa, essa unânime por parte de todas as pessoas que procuram os serviços, diz respeito à Bradesco Dental. A operadora tem poucos profissionais credenciados na área de atuação da CGT Eletrosul e os poucos profissionais que atendem realizam apenas a consulta básica e profilaxia, muitas vezes chegando até a cobrar por fora do plano de aplicação de flúor. A Eletrobras informou que está tomando providências em relação a essa operadora, trabalhando inclusive para sua substituição.
Os dirigentes do CNE também questionaram que tanto na Unimed Nacional quanto na Bradesco Dental, a relação de credenciados disponíveis nos aplicativos se encontra totalmente desatualizada, o que leva as pessoas a perderem horas e horas de trabalho ou seu intervalo de almoço na tentativa de encontrar um profissional credenciado. A desinformação é total, incluindo telefones desatualizados e inexistentes e constando como credenciado prestador que faz mais de seis anos que não atende tais convênios. É importante que a categoria permaneça atenta. Os sindicatos estão buscando soluções para todas as reclamações.
Fortaleça quem defende seus direitos! Filia-se aos sindicatos do Coletivo da Intersul.
*Por Beth Koike, Valor – São Paulo 19/01/2025 11h15min notícia: ”Em Crise, Unimed Nacional terá aporte de R$ 1 bilhão”.