Após mais de um ano pedindo à Eletrosul informações sem sucesso, a Intersul se reuniu com a direção da empresa no dia 18 de janeiro para debater a questão da CGTEE. A resposta da diretoria sobre a fusão com a CGTEE não deixa dúvidas sobre o momento obscuro e de rarefeito diálogo que a empresa e que o país vivem: “Não há o que discutir” – disse o diretor da Eletrosul.
De saída na reunião, o Diretor Administrativo anunciou que apenas repassaria aos presentes a decisão da gestão Eletrobras sobre a incorporação da Eletrosul pela CGTEE. Segundo ele, esta decisão é da Holding e sobre ela a Eletrosul não tem nenhuma gestão: “Não se trata de negociar com Sindicatos. Nem a Eletrosul consegue dizer que não. O Conselho de Administração da Holding já definiu” – concluiu.
A Intersul lembrou que o Sinergia, como acionista minoritário, solicitou em janeiro o envio de toda a documentação relativa ao processo, para poder analisar, além dos aspectos econômicos, técnicos e financeiros dos impactos sobre a vida dos trabalhadores. Questionou qual o estudo existente sobre os passivos ambientais, passivos judiciais e o impacto da incorporação nos fundos de pensão dos trabalhadores. Solicitou ainda que os documentos pedidos fossem providenciados com brevidade. Os sindicatos lembraram ainda a preocupação com os trabalhadores que se dedicam a garantir a excelência da Eletrosul e que, mesmo dentro de um quadro enxugado ao limite, garantem sempre resultados positivos e alto padrão de qualidade nos serviços prestados pela empresa. Muitos estão fazendo isso às custas de sua saúde mental, constantemente estressados e sofrendo vários tipos de assédio. A redução do quadro de pessoal está impactando os trabalhadores no campo, causando estresse e a constante falta ou incerteza nas informações também fazem mal à saúde laboral. Além disso, quem será responsável pela perda da identidade da Eletrosul construída ao longo de 50 anos, uma vez que o CNPJ a ser mantido será o da CGTEE?
O presidente Eggers, citando o estudo da consultoria Delloite, contratada para encaminhar o processo, contou que todo processo deverá estar concluído até o final de fevereiro ou, no máximo, em início de março. Trata-se, segundo ele, “de uma incorporação às avessas, onde o CNPJ será da CGTEE, mas o modelo de gestão, o ‘DNA’ e cultura da Eletrosul serão fortalecidos e prevalecerão”. Dias depois, um conhecido colunista de um jornal catarinense já mencionava a “esperança” dos cerca de 600 trabalhadores da Sede da Eletrosul em que, dentro do processo de incorporação, prevaleça o modelo de gestão da Eletrosul. No geral, o que de lá para cá a mídia gaúcha e catarinense tem noticiado literalmente é a extinção da Eletrosul. O que não aparece na mídia, catarinense principalmente, é a possibilidade econômica de perda do estado de Santa Catarina com a incorporação da Eletrosul por uma empresa de outro estado.
A direção ainda salientou que, com esse modelo de fusão, considerando a estrutura tributária, haverá ganhos tributários. Destacou o alto grau de endividamento da Eletrosul, com algumas iniciativas para reduzi-lo, como descontratação/liquidação de energia de alguns empreendimentos e a transferência de ativos para a holding para quitar dívidas (em 2017 foi pago R$ 660 milhões de serviço de dívida e, em 2018, R$ 330 milhões), o que elevou a gestão da empresa a um nível administrável. A CGTEE, por sua vez, tem uma dívida com a Eletrobras de R$ 4 bilhões e 200 milhões. Com a incorporação da Eletrosul, a Eletrobras irá zerar essa dívida. Há um crédito tributário importante a ser aproveitado, com vários estudos apontando a possibilidade de aproveitamento. A CGTEE teve uma redução de 40% de despesas com RH em dois anos. Está com a usina sendo recuperada e uma reforma dos geradores deve ser concluída em março, ou seja, uma usina de 350MW, o que gerará uma receita anual de R$ 600 milhões, com custos de R$ 350 milhões, segundo a direção da Eletrosul.
Para a Diretoria há vantagens na incorporação, como, por exemplo, uma única empresa Eletrobras no Sul, redução de cargos de gestão, uma só administração, aproveitamento tributário, recuperação de receita equivalente ao que a Eletrosul irá perder com a revisão tarifária e aumento da capacidade de geração da Eletrosul com o ganho de uma usina.
Lotes A, Lote E, e Privatização
Durante a reunião, Eggers tocou também na questão dos LOTES A e E, sem investimento do BNDEs nem recursos da Eletrobras. Lembrou que a Eletrosul precisou procurar parceiros externos, tendo como vencedora a Shangai Eletric. Mas em setembro de 2018 a chinesa desistiu do negócio. A Eletrosul procurou e apresentou novo parceiro, mas a Aneel não permitiu, e os Lotes foram novamente leiloados. Segundo o presidente, a Eletrosul será penalizada com multa de até 290 milhões e suspensão de participação em novos leilões. A empresa está gestionando e discutindo a multa – a Aneel está cobrando 8% sobre o valor do investimento, mas a Eletrosul entende que o contrato previa multa de 2%. A Eletrosul ofereceu aos vencedores dos leilões os projetos já realizados, prevendo a recuperação de até 160 milhões do valor despendido.
Eggers tentou amenizar a situação lembrando que a empresa fechou o ano com bom resultado, com R$ 800 milhões em caixa e pagamento de dividendos à Holding. Porém, como disse, “a tempestade nunca vem só”, lembrando que a revisão tarifária em 2019 poderá ter um grande impacto financeiro na Eletrosul, sinalizando perda de 50% da receita de um dos contratos, e uma perda de aproximadamente R$ 300 milhões/ano. Disse que foi solicitado à Aneel um escalonamento dessa revisão, que será diluída em cinco anos, com a perda gradual. Ainda estão tentando negociar melhoria na revisão. E aproveitou a ocasião para dizer que a Revisão Tarifária “exige” reduzir o PMSO da Eletrosul. Outras iniciativas a serem implantadas, conforme ele, serão a redução de pessoal (novo PDC), maior eficiência tecnológica em vigilância e redução do número de CROIs.
O presidente da Eletrosul não deixou de falar na questão da privatização. Segundo ele, há sinalização do governo para a continuidade do processo de privatização. Disse que a Eletrosul é a empresa mais preparada, e quanto melhor estiver a empresa, menos risco corre.
Ao final, como se vê, restaram as mesmas incertezas sobre os “rumos certos” que a Eletrobras e Eletrosul pretendem dar à gestão da empresa e ao processo de urgente incorporação pela CGTEE. O que se sabe com certeza é que o endividamento já não serviria mais como motivo para mudanças na estrutura de uma empresa rentável e estratégica para a região sul como é o caso da Eletrosul. O que já não se sabe, mas corre como boatos, é uma suposta remuneração (incentivo financeiro) a diretores da empresa que estariam empenhados em “exterminar a Eletrosul”.
A partir de agora é esperado de todos os diretores da Eletrosul, além da transparência necessária a um processo que pode impactar centenas de famílias, a coerência em estar do lado certo de uma história que aniversariou em dezembro 50 anos com grande festa. Soprar velinhas, nesse caso, não pode ser extinguir seu fogo.