Com marcas como Bayer e Nestlé, o espaço da Embrapa teve protesto do MST e visita de ministros do governo Lula
A poucos metros da área onde indígenas, quilombolas, camponeses e diversos movimentos populares discutem soluções para o futuro do planeta e denunciam as grandes corporações como destruidoras da natureza, um pavilhão se ergueu como vitrine do agronegócio. A Agrizone – casa da agricultura sustentável – é uma área criada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
No espaço, a cor verde predomina, como se o design buscasse convencer o olhar de que sustentabilidade é apenas uma questão de tonalidade. Mas o discurso ambiental, ali, convive com logotipos de gigantes empresariais de setores como agrotóxicos e ultraprocessados com um histórico bem menos ecológico.
O pavilhão principal traz o tom científico das pesquisas da Embrapa com o brilho corporativo das grandes marcas. Chama atenção, logo no início, um vídeo institucional que mostra o histórico e o papel da empresa pública. O material anuncia categoricamente: “A mudança climática é real”. A frase, dita com voz grave pela locução, soa quase como uma confissão de uma evidência incômoda que, por muito tempo, o agronegócio tentou negar. O filme termina exaltando as décadas de atuação da Embrapa no desenvolvimento de tecnologias para o campo.
Entrando no espaço, é possível encontrar o estande da Bayer. Condenada em processos por contaminação de agrotóxicos, figura no evento ofertando um serviço chamado Pro Carbono. O projeto da gigante alemã oferece um serviço de consultoria para grandes produtores de monoculturas (milho, soja, trigo) que desejam diminuir a chamada “pegada de carbono” das atividades e conectar esse serviço com outras indústrias que buscam diminuir, ao longo de sua cadeia produtiva, os números de emissões de gases do efeito estufa (GEE). Tudo isso sem ir fundo na ferida central: o modelo das monoculturas.
Em 2024, seis organizações formalizaram uma denúncia pública à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) contra Bayer por violações contínuas cometidas contra comunidades tradicionais na Argentina, Bolívia, Brasil e Paraguai, apontando o contribuição para a expansão de cultivos transgênicos e o uso irresponsável de agrotóxicos.
Mais adiante, o visitante encontra a Nestlé, a maior empresa de alimentos do planeta. No seu stand, uma ativação de marketing mostra seus produtos como vários tipos de café. Nenhuma bolacha ultraprocessada à vista na degustação da empresa que admitiu, em 2020, que 60% de seus produtos não são saudáveis, segundo uma apresentação interna obtida pelo Financial Times.
Na época, a empresa respondeu: “Acreditamos que uma dieta saudável significa encontrar um ponto de equilíbrio entre bem-estar e fruição. Isso inclui ter algum espaço para alimentos de padrões menos rigidamente controlados quando o consumidor busca prazer, com moderação.”
No final de 2024, o grupo anunciou que se retiraria de uma aliança global para cortar as emissões de gás metano e reduzir o impacto ambiental da pecuária leiteira. A empresa afirmou que, apesar da saída, continuaria trabalhando para reduzir as emissões de gases de efeito estufa com o compromisso de zero emissões até 2050.
A indústria automobilística também está na Agrizone. A Fundação Toyota é uma das patrocinadoras do evento e a empresa conta com um estande, o Biomethane, onde apresenta seus modelos híbridos aos interessados, um utilitário. Assim como suas outras vizinhas do evento, a empresa conta um passivo ambiental, nesse caso, ligado à fraude. Nos Estados Unidos, a sua subsidiária, Hino Motors, foi multada em US$ 1,6 bilhão e declarou-se culpada por fornecer dados falsos em testes de emissões de CO₂ de mais de 105 mil carros vendidos entre 2010 e 2022.
*Escrito por: Afonso Bezerra
Notícia completa em: Agrizone: a vitrine ‘verde’ do agronegócio na COP30 — Brasil de Fato











