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PL da Devastação é ‘ataque direto’ aos povos indígenas, denuncia escritor Djagwa Tukumbó

Autor lança livro bilíngue e critica retrocessos ambientais, apagamento histórico e limitações da política indigenista

*Por Adele Robichez E Lucas Salum

O escritor e ativista indígena Djagwa Tukumbó vê no Projeto de Lei (PL) da Devastação um “ataque direto” aos povos originários e ao meio ambiente. Ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato, ele afirmou que a flexibilização do licenciamento ambiental expressa interesses políticos e econômicos distantes das preocupações climáticas e comunitárias. “A grande mão que coordena tudo isso, na verdade, tem um nome: políticos”, disse. Para ele, mesmo terras demarcadas continuam vulneráveis sem o acompanhamento e a presença do Estado. “Demarcar terra e não acompanhar é a mesma coisa que não demarcar”, criticou.

Ao comentar 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) e a derrubada dos vetos presidenciais ao PL no mesmo período, Tukumbó criticou a ausência de lideranças indígenas nos espaços de decisão. “Nós não tivemos, com voz ativa, nenhuma liderança sentada nas mesas de negociação”, apontou. Ele também avalia que a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, ainda enfrenta limites na sua atuação. “Vemos uma pessoa que está ali, mas de mãos atadas. Ela não tem um poder forte de negociação”, avaliou.

Djagwa apresentou também seu novo livro, As aventuras de Kara’i Tukumbó – o espírito das águas, uma obra bilíngue em português e guarani que aborda saberes ancestrais, proteção ambiental e impactos do garimpo. A escolha de escrever nos dois idiomas, explica, busca fortalecer o pertencimento cultural. “Você pode traduzir a ideia, mas não tem como traduzir literalmente. Foi a minha preocupação em escrever em português e em guarani, para despertar o aprendizado desse idioma”, contou.

O escritor defendeu a ampliação do uso de línguas indígenas no cotidiano, na educação e em políticas públicas, citando exemplos como Paraguai e Bolívia. “Quando você volta às suas raízes, isso deixa mais digno saber da sua ancestralidade. O idioma é uma forma de resgatar isso”, indicou. Ele também destacou como diversas expressões e costumes brasileiros, do chimarrão à expressão “tchê”, derivam do guarani, embora muitas vezes sejam apropriados sem reconhecimento de origem. “Seria legal contar isso para as gerações que estão vindo. O problema não é usar essas referências, problema é o apagamento histórico”, pontuou.

Durante a conversa, Tukumbó leu um trecho da obra em guarani, no qual ele diz que “haverá uma conscientização coletiva, e as pessoas irão se agrupar em torno de uma só causa: a floresta e a preservação da vida e do planeta”. Em seguida, comentou a potência do registro escrito como uma forma de resistência. Ele conta que a escrita tem inspirado jovens indígenas, embora parte das lideranças mais antigas ainda prefira manter alguns conhecimentos apenas na oralidade. “Vimos que podemos alcançar um número maior de pessoas e atravessar fronteiras”, afirmou.

Entrevista completa em: – BdF Entrevista PL da Devastação é ‘ataque direto’ aos povos indígenas, denuncia escritor Djagwa Tukumbó – Brasil de Fato

Celesc completa 70 anos sob ameaça

REESTRUTURAÇÃO APROVADA IGNORA TRABALHADORES E COLOCA CARÁTER PÚBLICO EM RISCO

A Celesc, maior empresa estatal de Santa Catarina, está prestes a completar sete décadas de existência no próximo dia 9, mas, em vez de celebrar apenas conquistas, o jornal Linha Viva destaca que os trabalhadores enfrentam um dos momentos mais preocupantes da história recente da companhia. Enquanto a Diretoria promove festividades e discursos sobre os 70 anos, avança silenciosamente um processo de reestruturação que fragiliza a Celesc Pública e contraria tudo o que os eletricitários catarinenses construíram ao longo de anos de resistência. O relato da aprovação da proposta de reestruturação das diretorias foi feito pelo Representante dos Empregados no Conselho de Administração, Paulo Horn, no Boletim do Conselheiro 96, na última semana de novembro e encaminhada por e-mail a todos os celesquianos. É de leitura necessária para toda a categoria o relato feito por Paulo em seu mais recente Boletim.

 Resistência que mantém a Celesc pública 

 No relato do Conselheiro eleito, ele lembra que, em um setor dominado por privatizações, a Celesc só permanece pública porque seus trabalhadores nunca deixaram de lutar. Mobilização, organização e disposição de enfrentamento sempre foram marcas da categoria. Foi assim que se consolidaram as Comissões de Gestão e Resultados, a participação no Conselho de Administração e na Diretoria — mecanismos que garantiram presença ativa dos empregados na defesa da empresa.

 Paulo lembra que essa história de resistência coletiva é justamente o que está em risco agora.

 Reestruturação aprovada sem diálogo e com graves consequências

 Desde meados deste ano, a Diretoria e o Governo do Estado insistem em uma reestruturação que, desde o início, apresentou falta de transparência, mudanças constantes e inúmeras perguntas sem respostas. Os trabalhadores se manifestaram na porta da reunião do Conselho de Administração, no prédio do Itacorubi, alguns meses atrás, solicitando diálogo antes da aprovação da proposta, mas, mesmo assim, não foram ouvidos e alguns pontos críticos nunca foram alterados. Entre eles, os seguintes destaques:

-Risco regulatório ao misturar as áreas de geração e distribuição sob uma mesma diretoria;

-Criação de uma diretoria voltada à gestão de terceirizados, abrindo caminho para a precarização dos serviços;

-Desmonte da Diretoria Comercial, único espaço onde o diretor é eleito pelos trabalhadores, reduzindo drasticamente a participação democrática dos empregados na gestão.

 Apesar de todas as denúncias e alertas dos sindicatos, dos empregados e de seu representante eleito, o Conselho de Administração aprovou a reestruturação. O único voto contrário foi justamente o do representante dos trabalhadores. Na Diretoria Executiva, conforme relato do Boletim do Conselheiro, a situação foi ainda mais grave: apenas o diretor eleito pelos empregados se posicionou contra a mudança, enquanto todos os outros — inclusive diretores oriundos da própria Celesc, mas indicados politicamente — apoiaram o projeto.

 Celesc se distancia de sua função pública 

 A reestruturação aponta para um modelo de empresa que se aproxima cada vez mais da lógica privatista: foco no retorno financeiro aos acionistas, aumento de terceirização, precarização do atendimento e perda da identidade pública construída ao longo de 70 anos.

É importante lembrar que a Celesc não é apenas uma distribuidora de energia. Ela é um patrimônio do povo catarinense, fundamental para o desenvolvimento do Estado é reconhecida justamente por sua capilaridade, respeito aos regionalismos e atuação pública. Transformá-la em uma empresa voltada ao lucro é abandonar esse compromisso. 

 Entre discursos comemorativos e ameaças concretas 

Ainda em seu Boletim, o Conselheiro lembra que nos Jogos da FAEC, na penúltima semana de novembro, a Diretoria investiu pesado na propaganda dos 70 anos da Celesc. Músi ca, vídeos, discursos e parabéns. Mas a pergunta que fica é: que empresa completará 70 anos no dia 9 de dezembro? E, principalmente: qual será o papel dos trabalhadores no futuro da Celesc?

 A luta continua 

 A aprovação da reestruturação é um ataque direto à Celesc Pública e aos seus trabalhadores. Não aceitaremos retrocessos que ameacem o caráter estatal da empresa, comprometam a qualidade do serviço ou reduzam o papel estratégico da Celesc no desenvolvimento de Santa Catarina.

 O movimento sindical reafirma seu compromisso com a defesa intransigente da Celesc Pública, com a participação dos trabalhadores e com a qualidade do serviço prestado à população. A luta continua — e será decisiva para o futuro da nossa empresa. Se necessário for, celesquianos e celesquianas estão dispostos a lutar por mais 70 anos em defesa da Celesc Pública e da qualidade dos serviços prestados à população catarinense! 

STF julga homologação de acordo entre Axia e Governo

Proposta de acordo não aumenta o poder de voto da União

O Supremo Tribunal Federal retomou na quinta-feira, 27 de novembro, o julgamento sobre a homologação do acordo entre a Axia (novo nome da antiga Eletrobras) e o governo federal. Após as sustentações orais, o julgamento foi suspenso e será retomado posteriormente, em data ainda não agendada.

 O caso voltou ao Plenário a pedido do ministro Alexandre de Moraes. Antes disso, os ministros Nunes Marques  (relator), Dias Toffoli e Edson Fachin já haviam votado a favor da homologação e da extinção do processo.

 O acordo não aumenta o poder de voto da União, que continua limitado a 10%, apesar de deter 42% das ações ordinárias. Porém, o governo passa a ter mais nomes indicados na empresa: poderá indicar 3 dos 10 conselheiros de administração e 1 dos 5 membros do conselho fiscal.

 A disputa surgiu porque a Advocacia Geral da União, em ação direta de inconstitucionalidade, alegou que a limitação do voto da União é desproporcional, prejudica o patrimônio público e fere princípios de interesse público. Em 2023 iniciou-se um processo de conciliação, mediado pela Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração Federal, que resultou no acordo enviado ao STF para homologação.

Fundação Cultural Badesc homenageia Paulo Gaiad com “Matéria Prolífica”

Exposição reúne cerca de 50 obras que exploram a relação tempo, matéria e repetição na produção do artista; abertura será na sexta-feira, 5 de dezembro

A exposição “Matéria Prolífica”, dedicada à obra do artista Paulo Gaiad (1953-2016), vai ocupar todos os espaços da Fundação Cultural Badesc, em Florianópolis, com cerca de 50 obras. A abertura da mostra do projeto ‘Ocupação Casa Toda’ será a partir das 19h de sexta-feira, dia 5 de dezembro. A entrada é gratuita.

Com curadoria de Thays Tonin, Victoria Beatriz, Rainara Sofia, Georgia Bergamin, Estela Camillo e Eduarda Andrade, a mostra é fruto de uma pesquisa desenvolvida ao longo de quase um ano no Acervo Artístico Paulo Gaiad, antigo ateliê do artista, hoje preservado pela família. Segundo as curadoras, esse mergulho no acervo permitiu revelar diferentes camadas da produção do artista, marcada por três décadas, e foi possível reunir obras que atravessam diferentes linguagens e suportes, resultado do interesse contínuo de Gaiad.

Entre os trabalhos reunidos para a exposição estão objetos, fotografias e desenhos, que evidenciam o uso de materiais diversos como gesso, metal e papel. “Essa multiplicidade de suportes revela a prática artística de Gaiad, marcada pela recusa em delimitar fronteiras rígidas entre pintura, escultura ou desenho”, destaca Victoria.

Tempo, matéria e recorrência: o eixo curatorial

A recorrência, um aspecto transversal da obra de Gaiad, foi o ponto de partida escolhido pela curadoria para conduzir a narrativa expositiva da exposição. A repetição insistente de símbolos: a cruz, os corpos nus, a serpente, o lagarto, e o retorno contínuo de imagens e materiais apropriados, sempre reconfiguradas em novas aparições, integram os trabalhos do artista.

Já o título da exposição remete à ideia de algo que se multiplica e se desdobra em camadas, uma fonte inesgotável de criação presente na trajetória do artista. “Matéria Prolífica” é uma oportunidade de revisitar a obra de Gaiad e perceber como suas criações se multiplicam em camadas de sentido. Cada peça carrega o vestígio da anterior, instaurando uma conversa infinita entre o artista e o tempo”, afirma Victoria, uma das curadoras do projeto.

A mostra enfatiza ainda a proximidade da obra do artista com ritos e gestos associados a morte, como relíquias, lápides, vestígios, que são reveladas em suas criações e dialogam com memórias íntimas e coletivas. Obras das séries como “Galícia”, “Monumento às Vítimas do Descobrimento da América” e “Divina Comédia – Inferno”, apresentam a potência crítica de Gaiad e destacam essa dimensão crítica acerca do luto. 

Radicado em Florianópolis desde os anos 1980, o artista incorporava o desgaste e a corrosão como parte de seu processo criativo, antecipando o encontro inevitável entre tempo e matéria.

Homenagem

Há dez anos, Paulo Gaiad foi o primeiro artista a ocupar todos os espaços da Fundação Cultural Badesc com a mostra “Impossibilias: memória e arquivo em Paulo Gaiad”, uma de suas últimas exposições em vida, já que veio a falecer alguns meses após a abertura, em 2016.

Para as curadoras, retomar essa ocupação agora é reafirmar a potência de sua obra e celebrar sua memória, mantendo viva a conversa infinita entre o artista e o tempo.

“Matéria Prolífica” poderá ser visitada até 19 de fevereiro de 2026 na Fundação Cultural Badesc, que fica na Rua Visconde de Ouro Preto, 216, no Centro de Florianópolis/SC, de segunda a sexta, das 13h às 19h.

Serviço: Abertura Exposição “Matéria Prolífica”, de Paulo Gaiad

Data: 5 de dezembro – sexta-feira, às 19h

Local: Fundação Cultural Badesc (Rua Visconde de Ouro Preto, 216, Centro, Florianópolis/SC)

Visitação gratuita até 19 de fevereiro de 2026 (de segunda a sexta, das 13h às 19h)

“Homens, não nos matem mais!”

Essa luta é de todos nós, mulheres e homens!

A frase título dessa matéria foi gritada por diversas mulheres que participaram da manifestação no último sábado, dia 22, contra a morte da professora Catarina Kasten, de 31 anos, na trilha da Praia do Matadeiro, no Sul da Ilha, em Florianópolis. Catarina dava aulas de inglês e era aluna do Programa de Pós-Graduação em Inglês em Estudos Linguísticos e Literários na UFSC. Ela saiu de casa para uma aula de natação na sexta-feira, dia 21, pela manhã, e não retornou. No caminho, de acordo com a polícia, ela teria sido asfixiada, violentada e morta por um homem de 21 anos. O suspeito tem outra acusação de estupro de uma mulher de 69 anos junto à Polícia Civil e foi identi f icado por meio de imagens de câmeras na área da trilha.

Ainda na manifestação do último sábado contra a violência contra a mulher, diversas pessoas lembravam de outras centenas de mulheres violentadas e mortas em Santa Catarina e no Brasil pelo simples fato de serem mulheres.

 Santa Catarina segue convivendo com um cenário doloroso de violência extrema contra as mulheres. De janeiro a outubro de 2025, 38 mulheres foram vítimas de feminicídio no estado, segundo dados oficiais, e só neste mês (novembro de 2025), nove mulheres já foram assassinadas. Em 2024, foram 51 vidas interrompidas, e nos últimos cinco anos mais de mil mulheres sobreviveram a tentativas de feminicídio. Cada número tem por trás um nome, uma história, uma família devastada.

 De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, isto é, de quase uma década após a entrada em vigor da lei do feminicídio, no último ano, todos os dias, ao menos quatro mulheres morreram vítimas de feminicídio no Brasil. No total do ano, foram 1.492 mulheres. É o maior número já observado desde 2015, quando a lei do feminicídio entrou em vigor.

 Em outra pesquisa, divulgada na semana passada pelo Instituto DataSenado, com entrevistas com mais de 22 mil brasileiras, foi constatado que 88% das mulheres já sofreram violência psicológica e que 71% dos casos foram testemunhadas por alguém sejam adultos ou crianças. Em grande parte dos casos, os filhos das vítimas foram as testemunhas. A pesquisa também revela que 40% das testemunhas não tomam nenhuma medida para ajudar no momento da agressão.

 O feminicídio não é um problema privado: é uma violência estrutural, fruto do machismo, da desigualdade e da ausência de políticas públicas eficazes. Combater essa realidade exige proteção, educação, acolhimento e investimento do Estado, mas também exige uma sociedade vigilante e organizada.

Nesse dia 25 de novembro, foi celebrado o Dia Internacional de Luta Contra a Violênica à Mulher e a Intercel a Intersul conclamam a categoria e as empresas de energia a debaterem o tema, a se juntarem na luta e, mais que isso, agirem contra todas as formas de violência contra a mulher. Lutar contra o feminicídio é defender a vida e nenhuma vida pode ser deixada para trás.

 Como denunciar as diferentes formas de violência contra a mulher? 

 O ligue 180 é o principal canal de denúncia e acolhimento e funciona 24h por dia, todos os dias da semana. O site do Tribunal de Justiça de Santa Catarina também indica o 190 (Polícia Militar) para situações de emergência e o aplicativo PMSC Cidadão (disponível para Android e IOS). O Tribunal também informa que o Disque Denúncia 181 (Polícia Civil) também aceita denúncias anônimas e a Ouvidoria das Mulheres do Conselho Nacional do Ministério Público, pelo telefone 610 3315-9476 (WhatsApp) e e-mail ouvidoriadasmulheres@cnmp.mp.br também são canais seguros.

 Numa categoria majoritariamente masculina, de que forma os homens podem ajudar na luta contra a violência contra a mulher?

É público e notório que os homens tendem a ouvir mais outros homens do que as mulheres. É fundamental que os homens dialoguem com outros homens constantemente sobre o tema, seja com os filhos, com os irmãos ou com os pais dentro de casa, seja na roda de amigos ou no ambiente de trabalho. A violência contra a mulher só conseguirá ser exterminada de vez quando os homens tiverem a consciência de que as mulheres não são sua propriedade.

 Infelizmente, a lógica machista ensina aos homens desde muito pequenos, equivocadamente, que as mulheres são propriedade dos homens e que elas devem lhes servir. Homens precisam estar atentos e saber abordar outros homens quando do término de um relacionamento, indicando que a mulher pode sim dar fim a um relacionamento e tocar sua vida sem o companheiro. Homens precisam entender quando uma mulher não aceita as suas investidas e que é um direito dela essa recusa. Homens precisam alertar outros homens que as mulheres têm autonomia sobre seus corpos, com quem elas querem se relacionar ou deixar de se relacionar, bem como também têm autonomia sobre a roupa que querem vestir. E nenhum homem tem o direito de questionar, violar, apalpar ou fazer qualquer tipo de comentário sobre a forma como a mulher está vestida, sem o seu consentimento.

 Caso você perceba comportamento estranho ou violento de algum colega, amigo ou familiar, é preciso indicar que busque ajuda especializada e tratamento adequado urgente.

No ambiente de trabalho, ainda é necessário que os homens saibam respeitar as mulheres e não tomar nenhuma atitude que possa invadir sua intimidade ou liberdade. Piadinhas, brincadeiras, ironias também não devem ocorrer.

 A violência contra a mulher está presente no nosso dia a dia e precisa acabar! Nenhuma mulher merece ser violentada ou morta! Basta!

 Catarina Kasten, presente!

Sinergia promove terceira edição do “Café com História”

Encontro debateu demissão motivada por racismo na antiga Eletrosul na década de 1990

 Na segunda-feira, 17 de novembro, o Sinergia promoveu a terceira edição do ”Café com História”. Nesta edição especial em alusão ao mês da Consciência Negra, o evento começou com uma apresentação cultural que trouxe música à noite. Depois do café, o auditório, lotado, assistiu ao documentário “Exceção e a regra” que retrata a demissão por racismo sofrida por Vicente do Espírito Santo, eletricitário da Eletrosul – hoje AXIA Energia.

Sobre o documentário: Vicente era trabalhador da Eletrosul desde janeiro de 1975, e  foi dispensado sem justa causa em 1992, após 17 anos de serviços prestados. Durante o processo na Justiça do Trabalho, testemunhas relataram ter ouvido de seu superior hierárquico após saber que Vicente buscava explicações sobre a sua demissão: “O que este crioulo quer, agora que conseguimos clarear o departamento?”.

Durante dois anos Vicente buscou seus direitos com apoio de aliados como o Mo vimento Negro, do vereador de Florianópolis Márcio de Souza e também do próprio Si nergia. Assim, depois de precisar trabalhar como vendedor de porta em porta, em 1995, a Justiça reconheceu a demissão como discriminatória – foi dessa forma que o primeiro julgamento sobre racismo aconteceu no TST, e o eletricitário foi reintegrado ao corpo da Eletrosul. 

Após a exibição do vídeo, uma roda de conversa sobre o caso foi iniciada por par ticipantes que conheciam Seu Vicente e estavam ligados ao caso na época, como o ex-dirigente do Sinergia, Dinovaldo Giolli, membros do Movimento Negro Unificado, um de seus advogados, Nilo Kawai, e sua própria filha, Anni Caroline.

Com o evento, que foi um sucesso, o Sinergia reafirmou sua postura histórica como entidade antirracista, independemente de qual data seja.

 Seu Vicente, presente! 

Assista o documentário completo aqui!

Sindicato questiona venda de terreno da Celesc em Palhoça

Entidade aponta possíveis irregularidades na alienação de imóvel onde fica o Almoxarifado Central da Celesc

O Sinergia protocolou em 14 de novembro representação no Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina (TCE/SC) questionando a legalidade da venda de um terreno estratégico da Celesc, localizado às margens da BR-101, em Palhoça. O terreno possui 58.926,45m² de área total e abriga atualmente o Almoxarifado Central da companhia. Segundo estimativas, o imóvel tem valor superior a R$ 40 milhões. A licitação para sua venda foi realizada na segunda-feira, 17 de novembro, às 15h. 

De acordo com a Advocacia Garcez, que assessora o Sinergia, a decisão de alienação do imóvel não passou pela Assembleia Geral de Acionistas. O problema é que este terreno integra o capital social integralizado da companhia e, portanto, sua alienação equivale a uma redução de capital social, o que exige deliberação na Assembleia. A representação demonstra que a própria incorporação do imóvel ao patrimônio da Celesc foi decidida em Assembleia Geral, conforme consta na matrícula do imóvel. Por paridade de formas, a alienação também deveria seguir o mesmo rito, argumenta o sindicato.

 Diante da iminência da licitação, o Siner gia solicitou ao TCE/SC a suspensão cautelar do certame até que seja esclarecido o motivo pelo qual não houve deliberação da Assembleia Geral. “Estamos falando de um patrimônio público gerido por uma empresa estatal. A sociedade catarinense tem o direito de saber por que um ativo tão valioso está sendo vendido dessa forma, sem os devidos trâmites, na nossa ótica”, afirma Tiago Bitencourt Vergara, Coordenador do Sinergia. 

O sindicato também solicitou que as informações obtidas sejam compartilhadas com o Ministério Público e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e que seja realizada auditoria específica sobre a operação. Além disso, o Edital para instalação do novo Almoxarifado traz uma série de equívocos sobre a localização do novo terreno, contrariando o próprio Edital em vários itens propostos.

Neusa das Dores, a feminista que fez da luta lésbica negra um caminho de reparação e memória

Aos 82 anos, ativista é figura central na articulação de agendas que abriram caminho para políticas públicas no país

Por: Camila Marins

Inspirada por Conceição Evaristo, esbocei a lesboescrevivência, como costumo definir a minha escrita com Neusa das Dores, feminista lésbica negra, que aos 82 anos é presidenta de honra da Casa das Pretas, organização que que atua na promoção de liderança e igualdade para mulheres negras.

Comecei a frequentar a casa da idealizadora do histórico 1º Seminário Nacional de Lésbicas no início de 2024, a partir de um convite da coordenadora da Casa das Pretas, de Edmeire Exaltação, para um trabalho de memória, que consistia em visitar Neusa todas as segundas-feiras, lhe mostrar fotos do acervo e legendar por escrito no verso. 

Eu saía do centro do Rio de Janeiro (RJ) em direção a Copacabana, onde me encontrava com Neusa. Ali, a oralidade fez-se lesboescrevivência. Atualmente, Neusa vive acamada e fazemos dessa escavação de arquivos um exercício de memória e reparação à sua luta e à luta de lésbicas negras.

Filha de trabalhadora doméstica, Neusa das Dores, quando menina, sonhava ser piloto de avião. Ouvia que isso era para os meninos. Quis, então, ser aeromoça, mas isso era para as brancas. Nasceu em uma família muito pobre e morou em um barracão de zinco. 

“Quando eu nasci, minha mãe estava muito doente e fomos ajudadas por outras mulheres”, conta Neusa em uma de nossas conversas, que sempre ressalta a sabedoria de sua mãe, que nunca deixou que a filha fizesse o trabalho doméstico nas casas onde trabalhava. “Venho com a minha filha, mas a senhora não vai ter duas empregadas por uma. A minha filha só vai estudar”, relembra. 

Anos depois, Neusa se tornou professora e, diferentemente da maioria das mulheres de sua época, não cumpriu o protocolo de casamento e dona de casa. Durante a ditadura civil-militar, trabalhou na biblioteca da escola e se apaixonou pelas mãos ao volante de uma colega de trabalho. 

No movimento sindical dos professores, Neusa conheceu Lula e ficou admirada. “Ele dizia: ‘professores são trabalhadores junto com merendeiras e com todos os profissionais da educação’, que foi como surgiu o Sepe [Sindicato Estadual de Professores do Rio de Janeiro]. Os professores tinham aquela visão de que não eram trabalhadores, de que estavam em outra classe, como se fossem intelectuais. E somos todos classe trabalhadora”, lembra Neusa.

Oficina sobre “amor entre mulheres” e Lobby do Batom

Na prática, Neusa já articulava uma política interseccional entre raça, classe e gênero, perpassando a luta pelos movimentos sindical, feminista, negro, lésbico.

“Aqui, no Rio de Janeiro, nós fazíamos oficinas sobre ‘amor entre mulheres’ dentro dos movimentos negros e feministas, mas dávamos outros nomes por uma questão de estratégia. Em 1988, no 1º Encontro de Mulheres Negras, em Valença (RJ), eu estava na comissão organizadora. Os homens aqui no Rio de Janeiro fizeram uma reunião com as mulheres pedindo para elas não irem, porque eram um bando de sapatão ou para terem cuidado no banheiro. O encontro era para discutir racismo, mas os caras cismaram que nós iríamos discutir a pica deles”, revela Neusa sobre as lesbofobias que permanecem nos tempos atuais.  

“Como negra, estou em espaços negros e, como mulher, estou junto com muitas mulheres heterossexuais.  Meter o pé ali significava meter o pé enquanto negra e lésbica. Não era fácil, mas eu tive aliadas fantásticas, como a Schuma  [Maria Aparecida Schumacher], Marisa Fernandes, Alice Oliveira” conta.  

Leia o material completo em: Neusa das Dores, a feminista que fez da luta lésbica negra um caminho de reparação e memória – Brasil de Fato

A interpretação criativa de Moisés

INTERCEL CONTESTA DECLARAÇÃO DO DIRETOR DE GESTÃO CORPORATIVA E DENUNCIA DISTORÇÃO DE FATOS

Durante a última reunião do Conselho de Administração da Celesc, realizada dia 23 de outubro, o Diretor de Gestão Corporativa, Moisés Diersmann, omitiu informações e distorceu fatos quando afirmou que os sindicatos da Intercel teriam informado que “não reconhecem as normativas internas” da empresa.

 De acordo com seu registro em ata, durante reunião da Comissão de Recursos Humanos (CRH) realizada 16 de outubro com os sindicatos que integram a Intercel, o Diretor teria lembrado aos dirigentes sindicais sobre as normas internas que regulamentam as relações sindicais e o acesso e permanência nas dependências da companhia e, ao ouvir os argumentos dos sindicalistas sobre falhas de construção da referida normativa, o Diretor simplesmente concluiu que os sindicatos não reconhecem as normativas internas da Celesc.

A Intercel contesta essa versão, que beira o absurdo. Os sindicatos da Intercel não apenas respeitam as normativas internas da empresa como inclusive participam da construção de várias delas, que são inclusive referenciadas em Acordo Coletivo de Trabalho. Isso não impede, entretanto, que os sindicatos se manifestem contrários a uma normativa específica, elaborada de forma unilateral e com princípios estritamente proibitórios.

 MANIFESTAÇÃO LEGÍTIMA E PACÍFICA 

 No ato dos trabalhadores em 18 de setembro, ocorrido durante reunião do Conselho de Administração, nenhuma norma foi descumprida. O que houve foi uma grande manifestação, contrária ao projeto de reestruturação das Diretorias. Como sempre, de forma pacífica, ordeira e sem representar qualquer perigo às pessoas ou ao patrimônio, os celesquianos, mais uma vez, demonstraram seu descontentamento com os rumos que a Diretoria da Celesc vem dando à empresa. (CONFIRA IMAGENS)

 SOBROU DISTORÇÃO 

O fato é que Moisés, ao ser cobrado pelos Conselheiros, parece ter se acovardado, justificando que os sindicatos desrespeitam as determinações da empresa e recorrendo à saída fácil: distorcer fatos e as falas. O diretor, além de não manter sua palavra nas negociações junto ao MPT, também desrespeita o Conselho de Administração, trazendo uma narrativa falsa sobre as falas dos sindicalistas.

 NORMAS SE RESPEITAM, MAS TAMBÉM SE QUESTIONAM 

 As normativas existem e são respeitadas, mas isso não impede que as entidades sindicais as critiquem ou questionem, como no caso da normativa que define critérios para o recebimento do auxílio PCD, considerada pelos sindicatos uma afronta ao Estatuto da Pessoa com Deficiência.

 RESPEITO E TRANSPARÊNCIA: VALORES QUE NÃO PODEM FALTAR 

Para os representantes da categoria o episódio compromete a imagem institucional da Diretoria e reforça a necessidade de um diálogo transparente e respeito às representações sindicais dentro da empresa.

 É preciso permanecer em alerta diante de posturas autoritárias que ameaçam a liberdade de expressão e de organização. A Celesc é PÚBLICA, pertence a todos os catarinenses e não pode se transformar em propriedade de gestores indicados, arbitrários e incapazes de conviver com a divergência e com a voz dos trabalhadores.

Agrizone: a vitrine ‘verde’ do agronegócio na COP30

Com marcas como Bayer e Nestlé, o espaço da Embrapa teve protesto do MST e visita de ministros do governo Lula

A poucos metros da área onde indígenas, quilombolas, camponeses e diversos movimentos populares discutem soluções para o futuro do planeta e denunciam as grandes corporações como destruidoras da natureza, um pavilhão se ergueu como vitrine do agronegócio. A Agrizone – casa da agricultura sustentável – é uma área criada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

No espaço, a cor verde predomina, como se o design buscasse convencer o olhar de que sustentabilidade é apenas uma questão de tonalidade. Mas o discurso ambiental, ali, convive com logotipos de gigantes empresariais de setores como agrotóxicos e ultraprocessados com um histórico bem menos ecológico.

O pavilhão principal traz o tom científico das pesquisas da Embrapa com o brilho corporativo das grandes marcas. Chama atenção, logo no início, um vídeo institucional que mostra o histórico e o papel da empresa pública. O material anuncia categoricamente: “A mudança climática é real”. A frase, dita com voz grave pela locução, soa quase como uma confissão de uma evidência incômoda que, por muito tempo, o agronegócio tentou negar. O filme termina exaltando as décadas de atuação da Embrapa no desenvolvimento de tecnologias para o campo.

Entrando no espaço, é possível encontrar o estande da Bayer. Condenada em processos por contaminação de agrotóxicos, figura no evento ofertando um serviço chamado Pro Carbono. O projeto da gigante alemã oferece um serviço de consultoria para grandes produtores de monoculturas (milho, soja, trigo) que desejam diminuir a chamada “pegada de carbono” das atividades e conectar esse serviço com outras indústrias que buscam diminuir, ao longo de sua cadeia produtiva, os números de emissões de gases do efeito estufa (GEE). Tudo isso sem ir fundo na ferida central: o modelo das monoculturas.

Em 2024, seis organizações formalizaram uma denúncia pública à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) contra Bayer por violações contínuas cometidas contra comunidades tradicionais na Argentina, Bolívia, Brasil e Paraguai, apontando o contribuição para a expansão de cultivos transgênicos e o uso irresponsável de agrotóxicos.

Mais adiante, o visitante encontra a Nestlé, a maior empresa de alimentos do planeta. No seu stand, uma ativação de marketing mostra seus produtos como vários tipos de café. Nenhuma bolacha ultraprocessada à vista na degustação da empresa que admitiu, em 2020, que 60% de seus produtos não são saudáveis, segundo uma apresentação interna obtida pelo Financial Times.

Na época, a empresa respondeu: “Acreditamos que uma dieta saudável significa encontrar um ponto de equilíbrio entre bem-estar e fruição. Isso inclui ter algum espaço para alimentos de padrões menos rigidamente controlados quando o consumidor busca prazer, com moderação.”

No final de 2024, o grupo anunciou que se retiraria de uma aliança global para cortar as emissões de gás metano e reduzir o impacto ambiental da pecuária leiteira. A empresa afirmou que, apesar da saída, continuaria trabalhando para reduzir as emissões de gases de efeito estufa com o compromisso de zero emissões até 2050.

A indústria automobilística também está na Agrizone. A Fundação Toyota é uma das patrocinadoras do evento e a empresa conta com um estande, o Biomethane, onde apresenta seus modelos híbridos aos interessados, um utilitário. Assim como suas outras vizinhas do evento, a empresa conta um passivo ambiental, nesse caso, ligado à fraude. Nos Estados Unidos, a sua subsidiária, Hino Motors, foi multada em US$ 1,6 bilhão e declarou-se culpada por fornecer dados falsos em testes de emissões de CO₂ de mais de 105 mil carros vendidos entre 2010 e 2022.

*Escrito por: Afonso Bezerra

Notícia completa em: Agrizone: a vitrine ‘verde’ do agronegócio na COP30 — Brasil de Fato