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“Homens, não nos matem mais!”

Essa luta é de todos nós, mulheres e homens!

A frase título dessa matéria foi gritada por diversas mulheres que participaram da manifestação no último sábado, dia 22, contra a morte da professora Catarina Kasten, de 31 anos, na trilha da Praia do Matadeiro, no Sul da Ilha, em Florianópolis. Catarina dava aulas de inglês e era aluna do Programa de Pós-Graduação em Inglês em Estudos Linguísticos e Literários na UFSC. Ela saiu de casa para uma aula de natação na sexta-feira, dia 21, pela manhã, e não retornou. No caminho, de acordo com a polícia, ela teria sido asfixiada, violentada e morta por um homem de 21 anos. O suspeito tem outra acusação de estupro de uma mulher de 69 anos junto à Polícia Civil e foi identi f icado por meio de imagens de câmeras na área da trilha.

Ainda na manifestação do último sábado contra a violência contra a mulher, diversas pessoas lembravam de outras centenas de mulheres violentadas e mortas em Santa Catarina e no Brasil pelo simples fato de serem mulheres.

 Santa Catarina segue convivendo com um cenário doloroso de violência extrema contra as mulheres. De janeiro a outubro de 2025, 38 mulheres foram vítimas de feminicídio no estado, segundo dados oficiais, e só neste mês (novembro de 2025), nove mulheres já foram assassinadas. Em 2024, foram 51 vidas interrompidas, e nos últimos cinco anos mais de mil mulheres sobreviveram a tentativas de feminicídio. Cada número tem por trás um nome, uma história, uma família devastada.

 De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, isto é, de quase uma década após a entrada em vigor da lei do feminicídio, no último ano, todos os dias, ao menos quatro mulheres morreram vítimas de feminicídio no Brasil. No total do ano, foram 1.492 mulheres. É o maior número já observado desde 2015, quando a lei do feminicídio entrou em vigor.

 Em outra pesquisa, divulgada na semana passada pelo Instituto DataSenado, com entrevistas com mais de 22 mil brasileiras, foi constatado que 88% das mulheres já sofreram violência psicológica e que 71% dos casos foram testemunhadas por alguém sejam adultos ou crianças. Em grande parte dos casos, os filhos das vítimas foram as testemunhas. A pesquisa também revela que 40% das testemunhas não tomam nenhuma medida para ajudar no momento da agressão.

 O feminicídio não é um problema privado: é uma violência estrutural, fruto do machismo, da desigualdade e da ausência de políticas públicas eficazes. Combater essa realidade exige proteção, educação, acolhimento e investimento do Estado, mas também exige uma sociedade vigilante e organizada.

Nesse dia 25 de novembro, foi celebrado o Dia Internacional de Luta Contra a Violênica à Mulher e a Intercel a Intersul conclamam a categoria e as empresas de energia a debaterem o tema, a se juntarem na luta e, mais que isso, agirem contra todas as formas de violência contra a mulher. Lutar contra o feminicídio é defender a vida e nenhuma vida pode ser deixada para trás.

 Como denunciar as diferentes formas de violência contra a mulher? 

 O ligue 180 é o principal canal de denúncia e acolhimento e funciona 24h por dia, todos os dias da semana. O site do Tribunal de Justiça de Santa Catarina também indica o 190 (Polícia Militar) para situações de emergência e o aplicativo PMSC Cidadão (disponível para Android e IOS). O Tribunal também informa que o Disque Denúncia 181 (Polícia Civil) também aceita denúncias anônimas e a Ouvidoria das Mulheres do Conselho Nacional do Ministério Público, pelo telefone 610 3315-9476 (WhatsApp) e e-mail ouvidoriadasmulheres@cnmp.mp.br também são canais seguros.

 Numa categoria majoritariamente masculina, de que forma os homens podem ajudar na luta contra a violência contra a mulher?

É público e notório que os homens tendem a ouvir mais outros homens do que as mulheres. É fundamental que os homens dialoguem com outros homens constantemente sobre o tema, seja com os filhos, com os irmãos ou com os pais dentro de casa, seja na roda de amigos ou no ambiente de trabalho. A violência contra a mulher só conseguirá ser exterminada de vez quando os homens tiverem a consciência de que as mulheres não são sua propriedade.

 Infelizmente, a lógica machista ensina aos homens desde muito pequenos, equivocadamente, que as mulheres são propriedade dos homens e que elas devem lhes servir. Homens precisam estar atentos e saber abordar outros homens quando do término de um relacionamento, indicando que a mulher pode sim dar fim a um relacionamento e tocar sua vida sem o companheiro. Homens precisam entender quando uma mulher não aceita as suas investidas e que é um direito dela essa recusa. Homens precisam alertar outros homens que as mulheres têm autonomia sobre seus corpos, com quem elas querem se relacionar ou deixar de se relacionar, bem como também têm autonomia sobre a roupa que querem vestir. E nenhum homem tem o direito de questionar, violar, apalpar ou fazer qualquer tipo de comentário sobre a forma como a mulher está vestida, sem o seu consentimento.

 Caso você perceba comportamento estranho ou violento de algum colega, amigo ou familiar, é preciso indicar que busque ajuda especializada e tratamento adequado urgente.

No ambiente de trabalho, ainda é necessário que os homens saibam respeitar as mulheres e não tomar nenhuma atitude que possa invadir sua intimidade ou liberdade. Piadinhas, brincadeiras, ironias também não devem ocorrer.

 A violência contra a mulher está presente no nosso dia a dia e precisa acabar! Nenhuma mulher merece ser violentada ou morta! Basta!

 Catarina Kasten, presente!

Sinergia promove terceira edição do “Café com História”

Encontro debateu demissão motivada por racismo na antiga Eletrosul na década de 1990

 Na segunda-feira, 17 de novembro, o Sinergia promoveu a terceira edição do ”Café com História”. Nesta edição especial em alusão ao mês da Consciência Negra, o evento começou com uma apresentação cultural que trouxe música à noite. Depois do café, o auditório, lotado, assistiu ao documentário “Exceção e a regra” que retrata a demissão por racismo sofrida por Vicente do Espírito Santo, eletricitário da Eletrosul – hoje AXIA Energia.

Sobre o documentário: Vicente era trabalhador da Eletrosul desde janeiro de 1975, e  foi dispensado sem justa causa em 1992, após 17 anos de serviços prestados. Durante o processo na Justiça do Trabalho, testemunhas relataram ter ouvido de seu superior hierárquico após saber que Vicente buscava explicações sobre a sua demissão: “O que este crioulo quer, agora que conseguimos clarear o departamento?”.

Durante dois anos Vicente buscou seus direitos com apoio de aliados como o Mo vimento Negro, do vereador de Florianópolis Márcio de Souza e também do próprio Si nergia. Assim, depois de precisar trabalhar como vendedor de porta em porta, em 1995, a Justiça reconheceu a demissão como discriminatória – foi dessa forma que o primeiro julgamento sobre racismo aconteceu no TST, e o eletricitário foi reintegrado ao corpo da Eletrosul. 

Após a exibição do vídeo, uma roda de conversa sobre o caso foi iniciada por par ticipantes que conheciam Seu Vicente e estavam ligados ao caso na época, como o ex-dirigente do Sinergia, Dinovaldo Giolli, membros do Movimento Negro Unificado, um de seus advogados, Nilo Kawai, e sua própria filha, Anni Caroline.

Com o evento, que foi um sucesso, o Sinergia reafirmou sua postura histórica como entidade antirracista, independemente de qual data seja.

 Seu Vicente, presente! 

Assista o documentário completo aqui!

Sindicato questiona venda de terreno da Celesc em Palhoça

Entidade aponta possíveis irregularidades na alienação de imóvel onde fica o Almoxarifado Central da Celesc

O Sinergia protocolou em 14 de novembro representação no Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina (TCE/SC) questionando a legalidade da venda de um terreno estratégico da Celesc, localizado às margens da BR-101, em Palhoça. O terreno possui 58.926,45m² de área total e abriga atualmente o Almoxarifado Central da companhia. Segundo estimativas, o imóvel tem valor superior a R$ 40 milhões. A licitação para sua venda foi realizada na segunda-feira, 17 de novembro, às 15h. 

De acordo com a Advocacia Garcez, que assessora o Sinergia, a decisão de alienação do imóvel não passou pela Assembleia Geral de Acionistas. O problema é que este terreno integra o capital social integralizado da companhia e, portanto, sua alienação equivale a uma redução de capital social, o que exige deliberação na Assembleia. A representação demonstra que a própria incorporação do imóvel ao patrimônio da Celesc foi decidida em Assembleia Geral, conforme consta na matrícula do imóvel. Por paridade de formas, a alienação também deveria seguir o mesmo rito, argumenta o sindicato.

 Diante da iminência da licitação, o Siner gia solicitou ao TCE/SC a suspensão cautelar do certame até que seja esclarecido o motivo pelo qual não houve deliberação da Assembleia Geral. “Estamos falando de um patrimônio público gerido por uma empresa estatal. A sociedade catarinense tem o direito de saber por que um ativo tão valioso está sendo vendido dessa forma, sem os devidos trâmites, na nossa ótica”, afirma Tiago Bitencourt Vergara, Coordenador do Sinergia. 

O sindicato também solicitou que as informações obtidas sejam compartilhadas com o Ministério Público e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e que seja realizada auditoria específica sobre a operação. Além disso, o Edital para instalação do novo Almoxarifado traz uma série de equívocos sobre a localização do novo terreno, contrariando o próprio Edital em vários itens propostos.

Neusa das Dores, a feminista que fez da luta lésbica negra um caminho de reparação e memória

Aos 82 anos, ativista é figura central na articulação de agendas que abriram caminho para políticas públicas no país

Por: Camila Marins

Inspirada por Conceição Evaristo, esbocei a lesboescrevivência, como costumo definir a minha escrita com Neusa das Dores, feminista lésbica negra, que aos 82 anos é presidenta de honra da Casa das Pretas, organização que que atua na promoção de liderança e igualdade para mulheres negras.

Comecei a frequentar a casa da idealizadora do histórico 1º Seminário Nacional de Lésbicas no início de 2024, a partir de um convite da coordenadora da Casa das Pretas, de Edmeire Exaltação, para um trabalho de memória, que consistia em visitar Neusa todas as segundas-feiras, lhe mostrar fotos do acervo e legendar por escrito no verso. 

Eu saía do centro do Rio de Janeiro (RJ) em direção a Copacabana, onde me encontrava com Neusa. Ali, a oralidade fez-se lesboescrevivência. Atualmente, Neusa vive acamada e fazemos dessa escavação de arquivos um exercício de memória e reparação à sua luta e à luta de lésbicas negras.

Filha de trabalhadora doméstica, Neusa das Dores, quando menina, sonhava ser piloto de avião. Ouvia que isso era para os meninos. Quis, então, ser aeromoça, mas isso era para as brancas. Nasceu em uma família muito pobre e morou em um barracão de zinco. 

“Quando eu nasci, minha mãe estava muito doente e fomos ajudadas por outras mulheres”, conta Neusa em uma de nossas conversas, que sempre ressalta a sabedoria de sua mãe, que nunca deixou que a filha fizesse o trabalho doméstico nas casas onde trabalhava. “Venho com a minha filha, mas a senhora não vai ter duas empregadas por uma. A minha filha só vai estudar”, relembra. 

Anos depois, Neusa se tornou professora e, diferentemente da maioria das mulheres de sua época, não cumpriu o protocolo de casamento e dona de casa. Durante a ditadura civil-militar, trabalhou na biblioteca da escola e se apaixonou pelas mãos ao volante de uma colega de trabalho. 

No movimento sindical dos professores, Neusa conheceu Lula e ficou admirada. “Ele dizia: ‘professores são trabalhadores junto com merendeiras e com todos os profissionais da educação’, que foi como surgiu o Sepe [Sindicato Estadual de Professores do Rio de Janeiro]. Os professores tinham aquela visão de que não eram trabalhadores, de que estavam em outra classe, como se fossem intelectuais. E somos todos classe trabalhadora”, lembra Neusa.

Oficina sobre “amor entre mulheres” e Lobby do Batom

Na prática, Neusa já articulava uma política interseccional entre raça, classe e gênero, perpassando a luta pelos movimentos sindical, feminista, negro, lésbico.

“Aqui, no Rio de Janeiro, nós fazíamos oficinas sobre ‘amor entre mulheres’ dentro dos movimentos negros e feministas, mas dávamos outros nomes por uma questão de estratégia. Em 1988, no 1º Encontro de Mulheres Negras, em Valença (RJ), eu estava na comissão organizadora. Os homens aqui no Rio de Janeiro fizeram uma reunião com as mulheres pedindo para elas não irem, porque eram um bando de sapatão ou para terem cuidado no banheiro. O encontro era para discutir racismo, mas os caras cismaram que nós iríamos discutir a pica deles”, revela Neusa sobre as lesbofobias que permanecem nos tempos atuais.  

“Como negra, estou em espaços negros e, como mulher, estou junto com muitas mulheres heterossexuais.  Meter o pé ali significava meter o pé enquanto negra e lésbica. Não era fácil, mas eu tive aliadas fantásticas, como a Schuma  [Maria Aparecida Schumacher], Marisa Fernandes, Alice Oliveira” conta.  

Leia o material completo em: Neusa das Dores, a feminista que fez da luta lésbica negra um caminho de reparação e memória – Brasil de Fato

A interpretação criativa de Moisés

INTERCEL CONTESTA DECLARAÇÃO DO DIRETOR DE GESTÃO CORPORATIVA E DENUNCIA DISTORÇÃO DE FATOS

Durante a última reunião do Conselho de Administração da Celesc, realizada dia 23 de outubro, o Diretor de Gestão Corporativa, Moisés Diersmann, omitiu informações e distorceu fatos quando afirmou que os sindicatos da Intercel teriam informado que “não reconhecem as normativas internas” da empresa.

 De acordo com seu registro em ata, durante reunião da Comissão de Recursos Humanos (CRH) realizada 16 de outubro com os sindicatos que integram a Intercel, o Diretor teria lembrado aos dirigentes sindicais sobre as normas internas que regulamentam as relações sindicais e o acesso e permanência nas dependências da companhia e, ao ouvir os argumentos dos sindicalistas sobre falhas de construção da referida normativa, o Diretor simplesmente concluiu que os sindicatos não reconhecem as normativas internas da Celesc.

A Intercel contesta essa versão, que beira o absurdo. Os sindicatos da Intercel não apenas respeitam as normativas internas da empresa como inclusive participam da construção de várias delas, que são inclusive referenciadas em Acordo Coletivo de Trabalho. Isso não impede, entretanto, que os sindicatos se manifestem contrários a uma normativa específica, elaborada de forma unilateral e com princípios estritamente proibitórios.

 MANIFESTAÇÃO LEGÍTIMA E PACÍFICA 

 No ato dos trabalhadores em 18 de setembro, ocorrido durante reunião do Conselho de Administração, nenhuma norma foi descumprida. O que houve foi uma grande manifestação, contrária ao projeto de reestruturação das Diretorias. Como sempre, de forma pacífica, ordeira e sem representar qualquer perigo às pessoas ou ao patrimônio, os celesquianos, mais uma vez, demonstraram seu descontentamento com os rumos que a Diretoria da Celesc vem dando à empresa. (CONFIRA IMAGENS)

 SOBROU DISTORÇÃO 

O fato é que Moisés, ao ser cobrado pelos Conselheiros, parece ter se acovardado, justificando que os sindicatos desrespeitam as determinações da empresa e recorrendo à saída fácil: distorcer fatos e as falas. O diretor, além de não manter sua palavra nas negociações junto ao MPT, também desrespeita o Conselho de Administração, trazendo uma narrativa falsa sobre as falas dos sindicalistas.

 NORMAS SE RESPEITAM, MAS TAMBÉM SE QUESTIONAM 

 As normativas existem e são respeitadas, mas isso não impede que as entidades sindicais as critiquem ou questionem, como no caso da normativa que define critérios para o recebimento do auxílio PCD, considerada pelos sindicatos uma afronta ao Estatuto da Pessoa com Deficiência.

 RESPEITO E TRANSPARÊNCIA: VALORES QUE NÃO PODEM FALTAR 

Para os representantes da categoria o episódio compromete a imagem institucional da Diretoria e reforça a necessidade de um diálogo transparente e respeito às representações sindicais dentro da empresa.

 É preciso permanecer em alerta diante de posturas autoritárias que ameaçam a liberdade de expressão e de organização. A Celesc é PÚBLICA, pertence a todos os catarinenses e não pode se transformar em propriedade de gestores indicados, arbitrários e incapazes de conviver com a divergência e com a voz dos trabalhadores.

Agrizone: a vitrine ‘verde’ do agronegócio na COP30

Com marcas como Bayer e Nestlé, o espaço da Embrapa teve protesto do MST e visita de ministros do governo Lula

A poucos metros da área onde indígenas, quilombolas, camponeses e diversos movimentos populares discutem soluções para o futuro do planeta e denunciam as grandes corporações como destruidoras da natureza, um pavilhão se ergueu como vitrine do agronegócio. A Agrizone – casa da agricultura sustentável – é uma área criada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

No espaço, a cor verde predomina, como se o design buscasse convencer o olhar de que sustentabilidade é apenas uma questão de tonalidade. Mas o discurso ambiental, ali, convive com logotipos de gigantes empresariais de setores como agrotóxicos e ultraprocessados com um histórico bem menos ecológico.

O pavilhão principal traz o tom científico das pesquisas da Embrapa com o brilho corporativo das grandes marcas. Chama atenção, logo no início, um vídeo institucional que mostra o histórico e o papel da empresa pública. O material anuncia categoricamente: “A mudança climática é real”. A frase, dita com voz grave pela locução, soa quase como uma confissão de uma evidência incômoda que, por muito tempo, o agronegócio tentou negar. O filme termina exaltando as décadas de atuação da Embrapa no desenvolvimento de tecnologias para o campo.

Entrando no espaço, é possível encontrar o estande da Bayer. Condenada em processos por contaminação de agrotóxicos, figura no evento ofertando um serviço chamado Pro Carbono. O projeto da gigante alemã oferece um serviço de consultoria para grandes produtores de monoculturas (milho, soja, trigo) que desejam diminuir a chamada “pegada de carbono” das atividades e conectar esse serviço com outras indústrias que buscam diminuir, ao longo de sua cadeia produtiva, os números de emissões de gases do efeito estufa (GEE). Tudo isso sem ir fundo na ferida central: o modelo das monoculturas.

Em 2024, seis organizações formalizaram uma denúncia pública à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) contra Bayer por violações contínuas cometidas contra comunidades tradicionais na Argentina, Bolívia, Brasil e Paraguai, apontando o contribuição para a expansão de cultivos transgênicos e o uso irresponsável de agrotóxicos.

Mais adiante, o visitante encontra a Nestlé, a maior empresa de alimentos do planeta. No seu stand, uma ativação de marketing mostra seus produtos como vários tipos de café. Nenhuma bolacha ultraprocessada à vista na degustação da empresa que admitiu, em 2020, que 60% de seus produtos não são saudáveis, segundo uma apresentação interna obtida pelo Financial Times.

Na época, a empresa respondeu: “Acreditamos que uma dieta saudável significa encontrar um ponto de equilíbrio entre bem-estar e fruição. Isso inclui ter algum espaço para alimentos de padrões menos rigidamente controlados quando o consumidor busca prazer, com moderação.”

No final de 2024, o grupo anunciou que se retiraria de uma aliança global para cortar as emissões de gás metano e reduzir o impacto ambiental da pecuária leiteira. A empresa afirmou que, apesar da saída, continuaria trabalhando para reduzir as emissões de gases de efeito estufa com o compromisso de zero emissões até 2050.

A indústria automobilística também está na Agrizone. A Fundação Toyota é uma das patrocinadoras do evento e a empresa conta com um estande, o Biomethane, onde apresenta seus modelos híbridos aos interessados, um utilitário. Assim como suas outras vizinhas do evento, a empresa conta um passivo ambiental, nesse caso, ligado à fraude. Nos Estados Unidos, a sua subsidiária, Hino Motors, foi multada em US$ 1,6 bilhão e declarou-se culpada por fornecer dados falsos em testes de emissões de CO₂ de mais de 105 mil carros vendidos entre 2010 e 2022.

*Escrito por: Afonso Bezerra

Notícia completa em: Agrizone: a vitrine ‘verde’ do agronegócio na COP30 — Brasil de Fato

Novembro Negro e Marcha das Mulheres Negras reafirmam a luta por igualdade

CUT destaca o protagonismo das mulheres negras e o compromisso com o combate ao racismo, ao machismo e à violência nas periferias e a defesa da democracia

Novembro é um mês simbólico e de profunda importância para a população negra no Brasil. Marcado pelo Dia da Consciência Negra, celebrado no próximo dia 20, o período convida a sociedade a refletir sobre o racismo estrutural, as desigualdades históricas e a resistência do povo negro ao longo dos séculos.

O mês também será marcado pela Marcha das Mulheres Negras, movimento que reafirma o protagonismo feminino negro na luta contra o racismo, o machismo e a violência nas periferias do país. Em novembro de 2015 cerca de cem mil mulheres negras de todo o Brasil marcharam em Brasília na histórica mobilização que defendeu o bem viver e denunciou o racismo estrutural.

“A expectativa é que um milhão de mulheres marchem na capital federal, no centro do poder político do país. A mobilização das organizações de mulheres, do movimento negro e da juventude é fundamental para que, um dia, possamos construir uma democracia plena e verdadeira no Brasil”, afirma Maria Júlia Nogueira, secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT.

O 20 de novembro homenageia Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares e símbolo da luta pela liberdade. A data foi oficializada para destacar a contribuição dos negros na construção da sociedade brasileira e denunciar as desigualdades que ainda persistem.

Racismo estrutural e violência policial

Apesar de avanços nas políticas públicas e no debate sobre diversidade, os desafios permanecem gritantes, especialmente nas comunidades periféricas. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), 82% das pessoas mortas pela polícia em 2023 eram negras. O dado faz parte do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024 e mostra como o racismo estrutural segue definindo quem vive e quem morre no país.

O mesmo levantamento aponta que, em 2023, a polícia brasileira matou mais de 6.400 pessoas — o equivalente a 17 mortes por dia. Em estados como Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, a maioria absoluta das vítimas é de jovens negros moradores de periferias. O padrão se repete ano após ano, evidenciando que a cor da pele ainda determina o grau de vulnerabilidade diante das forças de segurança.

Esses números não são isolados. Um relatório de 2024 da Anistia Internacional Brasil destaca que o país vive uma “crise de segurança pública marcada pela seletividade racial”.

Jovens negros são frequentemente alvos de operações violentas e de abordagens abusivas, enquanto políticas de prevenção e inclusão social seguem insuficientes. Um exemplo recente foi a ação policial no Rio de Janeiro que deixou mais de 117 mortos, a grande maioria negra.

“A violência policial no Brasil tem cor, território e classe. É a juventude negra das periferias que paga com a vida por um Estado que ainda enxerga corpos negros como ameaças. Precisamos de políticas públicas que valorizem a vida e garantam segurança, sem genocídio”, afirma Maria Júlia Nogueira.

Mulheres negras na linha de frente da resistência

As mulheres negras também sofrem impactos diretos desse contexto. São mães, irmãs e companheiras de vítimas da violência estatal, mas também lideranças que transformam dor em resistência. Na Marcha das Mulheres Negras, elas denunciam o genocídio da juventude negra, a desigualdade econômica e a invisibilidade histórica de suas pautas.

“As mulheres negras estão na linha de frente porque são elas que seguram a luta nas comunidades, que enfrentam a dor da perda e ainda se levantam para exigir justiça. A resistência dessas mulheres é o que mantém viva a esperança de um país mais justo e igualitário”, destaca Júlia Nogueira.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres negras representam 27% da população brasileira, mas ocupam apenas 6% dos cargos de liderança e recebem, em média, 46% menos que homens brancos. Ainda assim, estão na linha de frente da luta por justiça e equidade.

Consciência Negra: prática diária de transformação

Mais do que um mês de celebração, novembro é um convite à reflexão e à ação. A Consciência Negra não se resume a uma data no calendário: é uma prática diária de resistência, memória e transformação social.

É tempo de reconhecer as contribuições da população negra para a cultura, a política e a economia do país — e de enfrentar, com coragem e compromisso, as estruturas que perpetuam o racismo e a exclusão”, finaliza a dirigente.

Escrito por: Walber Pinto | Editado por: Rosely Rocha

Rede Vida Viva faz pesquisa para saber os impactos da digitalização no cotidiano das pessoas – PARTICIPE!

A Rede Vida Viva tem acompanhado de perto as mudanças que vêm transformando o mundo do trabalho no Brasil e no exterior. A digitalização, cada vez mais presente em todos os setores, vem reorganizando os processos de trabalho, elevando a produtividade e, ao mesmo tempo, intensificando o controle sobre cada passo dos trabalhadores. Diante desse cenário, é fundamental compreender como essas transformações têm afetado a vida, a saúde e as condições de trabalho de quem está na linha de frente. 

Por isso, a Rede Vida Viva convida você a participar de uma pesquisa que busca ouvir os trabalhadores e trabalhadoras sobre os impactos da digitalização em seu cotidiano. Sua experiência é essencial para construirmos, juntos, um novo olhar sobre o trabalho e para pensarmos caminhos coletivos de resistência e transformação. 

Acesse a pesquisa clicando aqui.

Atlas do Serviço Público de Santa Catarina é lançado na Alesc

Nesta terça-feira (4/11), o Sinergia esteve presente no lançamento do Atlas do Serviço Público de Santa Catarina, iniciativa organizada pela Frente Parlamentar em Defesa do Serviço Público e pelo Fórum Catarinense de Defesa do Serviço Público.

O objetivo do material é fortalecer a atuação do movimento sindical, oferecendo dados e análises essenciais para a defesa dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras do setor público e para a garantia de serviços públicos de qualidade para toda a população.

O Sinergia marcou presença na atividade e reforçou a luta contra a Reforma Administrativa, que ameaça direitos, serviços essenciais e o papel social do Estado.

“Seguiremos na defesa de uma Celesc pública, estatal e a serviço dos catarinenses, com organização e mobilização permanente ao lado das demais entidades!”, destaca o coordenador geral do Sinergia Tiago Vergara.

Confira abaixo o ATLAS do serviço público completo:

Mudam o nome, mas não apagam a história

POR TRÁS DA NOVA MARCA ESTÁ O MESMO PROJETO QUE ENTREGOU O PATRIMÔNIO PÚBLICO AO MERCADO FINANCEIRO

Dia 22 de outubro, a Eletrobras anunciou que passará a se chamar Axia a partir de 10 de novembro. Segundo a empresa, o nome de origem grega significa “valor”, mas na prática, a mudança tenta apagar a essência e a história da Eletrobras, uma das maiores conquistas do povo brasileiro, símbolo de soberania, desenvolvimento e compromisso com o país.

 O nome Eletrobras sempre carregou o DNA nacional, que significa “Eletro”, de eletricidade, e “Brás”, de Brasil, expressando o ideal de energia como bem comum, de engenharia nacional como instrumento de soberania e da eletricidade como direito de todos. Com “Axia”, o que se busca é apagar essa identidade coletiva e substituir o compromisso público pela lógica fria do lucro e dos acionistas.

 Desde a privatização, os resultados são evidentes: enquanto a alta cúpula da empresa viu seus salários aumentarem em mais de 2.000%, os trabalhadores sofreram com demissões, redução salarial e perda de direitos. A gestão, que se diz “moderna e inovadora”, tornou-se mais burocrática, centralizadora e menos transparente, dificultando até processos básicos como emissão de PPPs, reembolsos e marcação de férias.

 A justificativa de que a mudança busca “agilidade e inovação” é apenas retórica. O verdadeiro objetivo é reconfigurar a imagem da empresa para o mercado, tentando esconder o fato de que a Eletrobras, construída com o dinheiro e o trabalho do povo brasileiro, foi entregue ao capital privado e deixou de cum prir sua função social e estratégica.

 A mudança de nome tenta romper com a memória de uma empresa que foi responsável por integrar o sistema elétrico nacional, levar energia a regiões antes esquecidas pelo mercado e garantir segurança energética ao país. Apagar essa trajetória significa apagar o papel do Estado como indutor do desenvolvimento e negar a importância das políticas públicas que levaram luz, dignidade e progresso a milhões de brasileiros.

 A Intersul, CNE, Federações e a Confederação Nacional dos Urbanitários lutarão, junto com entidades sindicais, movimentos populares e parlamentares comprometidos com o interesse público, para que a Eletrobras volte a ser pública, transparente e voltada ao desenvolvimento nacional. A entrega de patrimônio público só prejudica a população brasileira e afeta a soberania do país.

 A estatização não é apenas uma pauta econômica, é um projeto de Brasil, de futuro e de respeito ao que foi construído coletivamente pelo povo brasileiro. Para a Intersul, a mudança do nome é simbólica e representa o apagamento da memória de um  patrimônio nacional e a submissão do setor elétrico brasileiro aos interesses do mercado. “Podem mudar o nome que quiserem, a luta pela reestatização da Eletrobras e pela defesa das empresas públicas continua firme.”, enfatiza Tiago Bitencourt Vergara, funcionário da Eletrobras e coordenador Geral do Sinergia e coordenador do Coletivo Nacional dos Eletricitários.

 A Intersul reforça que a energia elétrica é um direito essencial para a vida e ao desenvolvimento de um país e se preocupa demais com os rumos que a gestão privada da Eletrobras está tomando onde fica evidente que a preocupação com a manutenção do sistema elétrico tem ficado em segundo plano e priorizando o lucro dos acionistas.

 O povo brasileiro sabe que a Eletrobras é mais do que uma marca: é parte da sua história, da sua soberania e da sua capacidade de construir um futuro com justiça social e independência energética!